Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional aprovou
o tombamento de 14 bens culturais que marcam a colonização dos japoneses
no litoral paulista
(Fotos: Bunkyo
Registro/Cedida e Iphan/Divulgação)
Antiga sede da Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK), empresa que promoveu a colonização dos japoneses em Registro (SP)
O chão
da sala é de tatami e as camas têm futon (coberta). A estrutura
do imóvel é toda de madeira, mas não há nenhum
prego ou parafuso, as vigas se conectam por sambladuras, ou encaixes.
Até os telhados das igrejas têm as linhas arquitetônicas
dos tradicionais templos orientais. Do lado de fora, a paisagem é
dominada por plantações de chá.
O Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
vai atuar na preservação desse cenário, encontrado
nos municípios de Iguape e Registro, no litoral sul do Estado de
São Paulo. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural foi
unânime na aprovação do tombamento dos 14 bens culturais
que são representações características da
colonização japonesa em território brasileiro, encontrados
no Vale do Ribeira (SP).
Residência
da família Fukasawa: construção será
preservada pela iniciativa do Iphan
Cultura
de pai para filho
Rubens Shimizu,
morador de Registro, membro da Associação Cultural Nipo-Brasileira
de Registro, que preserva a cultura deixada por seus antepassados, revela
sua satisfação com a preservação do patrimônio:
“Era um sonho da associação ter algum patrimônio
tombado. Conseguimos o reconhecimento oficial na data de 18 de junho como
marco da colonização japonesa no Brasil, mas precisávamos
de bens preservados que representassem essa história. Esse título
do Iphan é como um presente, não só para a associação,
como também para toda a comunidade descendente dos imigrantes.
Uma das casas tombadas foi onde eu nasci. Para mim é um orgulho
muito grande”.
Shimizu conta
que seu avô, que era agricultor, chegou ao Brasil em 1918, onde
decidiu se estabelecer definitivamente. Na região onde vive, restam
muitos aspectos das tradições e dos costumes trazidos do
Japão. Algumas atividades, como a gincana poliesportiva undokai,
disseminaram-se por toda a comunidade de Registro. A educação
e a disciplina são as características da cultura que ele
mais preza, aspectos do comportamento pessoal que são ensinados
às crianças, em ambiente de muito respeito. Às gerações,
são transmitidas algumas atividades tradicionais do Japão,
como a prática de ginástica matinal, judô, danças
típicas e a arte do taiko (tambor). A comunidade de Registro realiza
anualmente a Festa do Sushi, o Obon (finados) e o Tooro Nagashi (celebração
em homenagem à alma dos antepassados e entes queridos).
Flávia
Nascimento, uma das técnicas do Iphan que conduziram o estudo da
cultura transmitida por imigrantes japoneses no Vale do Ribeira, explica
a importância de preservação dessa paisagem: “Esses
bens tombados representam o esforço do imigrante japonês
na adaptação ao território nacional. Sua arquitetura
é uma mistura das técnicas construtivas brasileiras e orientais,
um encontro de duas culturas. O tombamento desses bens do Vale do Ribeira
significa o reconhecimento da cultura desses imigrantes como parte da
expressão nacional”.
A
chegada dos japoneses ao Vale do Ribeira
O primeiro
passo para viabilizar a constituição das colônias
japonesas no Estado paulista foi dado em 1912, com um acordo firmado entre
o Governo de São Paulo e o Sindicato de Tokyo. O compromisso era
de doação de vasta extensão de terras na região,
além de concessão de recursos financeiros e de isenção
de impostos. Em contrapartida, a instituição japonesa deveria
introduzir duas mil famílias na região, num período
de quatro anos. O contrato foi repassado pelo sindicato para a Kaigai
Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK, também chamada de Kaiko), que então
conduziria toda a colonização japonesa no Vale do Ribeira.
A grande maioria
dos imigrantes era de lavradores, que deram uma grande contribuição
à agricultura nacional, introduzindo produtos que eram parte de
seu cotidiano, como é o caso do arroz. Foram responsáveis,
também, pela diversificação da produção
agrícola nacional, principalmente em relação às
frutas e hortaliças, trazendo o morango, a poncã, o caqui,
a abóbora japonesa, o pepino e a acelga, só para citar alguns
exemplos.
As colinas
suaves do município de Registro, abrigadas das cheias, ofereceram
boas condições para o plantio de chá na região,
onde a mata foi substituída pelos chazais, marcando a paisagem
do local. Outro produto típico que os japoneses exploraram nas
várzeas foi o junco, usado para produzir as famosas esteiras e
chinelos de fibra natural.
O domínio
da carpintaria era habilidade de muitos imigrantes. Ao chegarem ao Brasil,
empregaram estes conhecimentos e seu instrumental específico na
construção das edificações. Os ambientes internos
de suas casas eram simples, sem muitas divisórias e poucos móveis,
com destaque para estrutura de madeira aparente.
Primeiras
mudas de chá Assam
O plantio do chá preto no País teve início em 1935, quando Torazo Okamoto, imigrante japonês estabelecido na colônia de Registro, introduziu em suas terras a variedade assam, de origem indiana, que apresenta folhas mais largas sendo, portanto, mais produtiva e de maior qualidade. Espalhadas pelo município, as plantações fizeram dele o principal produtor e exportador de chá preto do Brasil.
Dispostas
em cinco fileiras acompanhando o declive do terreno, em colina suave situada
próxima à Fábrica de Chá Ribeira, as 65 mudas
de chá trazidas por Okamoto foram preservadas pela sua família
até hoje. São testemunhos da origem e trajetória
de vida e de trabalho do imigrante japonês em terras brasileiras,
em seu esforço de adaptação e criação
de raízes em novo terreno.
Bens
que serão preservados como patrimônios históricos
nacionais
Edificações
Fabris e Administrativas
1. Sede da
Kaigai Kabushiki Kaisha – KKKK (Registro – Colônia Registro)
2. Fábrica de Chá Shimabukuro (Registro – Colônia Registro)
3. Fábrica de Chá Amaya (Registro – Colônia Registro)
4. Fábrica de Chá Kawagiri (Registro – Colônia Registro)
5. Fábrica de Chá e Residência Shimizu (Registro – Colônia Registro)
6. Engenho, Sede Social e Residência Colônia Katsura (Iguape – Colônia Katsura)
2. Fábrica de Chá Shimabukuro (Registro – Colônia Registro)
3. Fábrica de Chá Amaya (Registro – Colônia Registro)
4. Fábrica de Chá Kawagiri (Registro – Colônia Registro)
5. Fábrica de Chá e Residência Shimizu (Registro – Colônia Registro)
6. Engenho, Sede Social e Residência Colônia Katsura (Iguape – Colônia Katsura)
Edificações
Residenciais
7. Residência
Fukasawa (Registro – Colônia Registro)
8. Residência Gozo Okiyama (Registro – Colônia Registro)
9. Residência Sra. Susu Okiyama (Registro – Colônia Registro)
10. Residência Família Hokugawa (Registro – Colônia Registro)
11. Residência Família Amaya (Registro – Colônia Registro)
8. Residência Gozo Okiyama (Registro – Colônia Registro)
9. Residência Sra. Susu Okiyama (Registro – Colônia Registro)
10. Residência Família Hokugawa (Registro – Colônia Registro)
11. Residência Família Amaya (Registro – Colônia Registro)
Edificações
Religiosas
12. Igreja
Episcopal Anglicana (Registro – Colônia Registro)
13. Igreja de São Francisco Xavier (Registro – Colônia Registro)
13. Igreja de São Francisco Xavier (Registro – Colônia Registro)
Patrimônio
Paisagístico
14. Primeiras
Mudas de Chá da Variedade Assam (Registro – Colônia
Registro)
Residência da família Amaya: arquitetura mistura técnicas construtivas brasileiras e orientais de carpintaria
O
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Formado por 22 conselheiros, especialistas em diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia, é presidido pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida. Ao Conselho Consultivo compete examinar, apreciar e decidir sobre questões relacionadas ao tombamento, ao registro de bens culturais de natureza imaterial e à autorização de saída temporária do País de patrimônio cultural protegido por legislação federal e opinar acerca de outras questões relevantes do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Fonte: http://www.nippobrasil.com.br/especial/559a.shtml
Formado por 22 conselheiros, especialistas em diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia, é presidido pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida. Ao Conselho Consultivo compete examinar, apreciar e decidir sobre questões relacionadas ao tombamento, ao registro de bens culturais de natureza imaterial e à autorização de saída temporária do País de patrimônio cultural protegido por legislação federal e opinar acerca de outras questões relevantes do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Fonte: http://www.nippobrasil.com.br/especial/559a.shtml
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