Diferentes esferas do poder público e privado parecem disputar para
ver quem demonstra maior desinteresse pelo patrimônio histórico de
Manaus. No páreo, a Biblioteca Pública Estadual, o Mercado Adolpho
Lisboa e o Museu do Porto.
Por muito tempo o Amazonas sofreu com a falta de um porto amplo na
capital, que só veio a ser construído entre 1869 e 1910, para dar
suporte à crescente exportação de borracha. O prédio onde hoje funciona o
Museu do Porto data de 1905 e é tombado pelo Iphan, como todo o
conjunto arquitetônico portuário. Mas “funciona” não é bem o termo. O
museu está fechado há seis anos, com parte do acervo trancado lá dentro.
São cerca de 300 peças ligadas à história do comércio e das atividades
portuárias desde o início do século XX.
O porto encontra-se atualmente sob a tutela da União, que reassumiu a
condição de Autoridade Portuária, após um período nas mãos da
Administração do Porto Privatizado de Manaus. Segundo Luciano Moreira,
especialista em infraestrutura do Ministério dos Transportes, que
trabalha no agora Porto Público de Manaus, o acervo não corre riscos,
mas ainda não há solução para o problema do prédio “abandonado”:
“Estamos numa fase de transição. Estamos tratando de alguns assuntos
para os quais não temos solução definida. O museu é um desses assuntos”.
Em julho passado, um “abraço coletivo” chamou a atenção para a situação
da Biblioteca Pública do Estado, construída em 1907 e um importante
exemplar da arquitetura eclética de Manaus. O prédio está fechado há
cinco anos para reformas que se arrastam sem prazo de conclusão. Uma das
líderes do protesto foi a bibliotecária Soraia Magalhães, que encabeça o
movimento “Abre Biblioteca”, pela finalização das obras e a devolução
do bem público à sociedade. “Pintaram o prédio, fizeram reformas
internas, mas para quê tudo isso, se a população continua sem acesso à
informação?”, questiona. A Secretaria Estadual de Infraestrutura, por
meio de sua assessoria de imprensa, justificou a demora: “As telhas
originais da biblioteca não são mais fabricadas. Foi preciso
providenciar um novo molde para a fabricação de 15.000 telhas fiéis ao
modelo do século passado”. A promessa, agora, é que a biblioteca será
reaberta em meados de outubro.
Construído no século XIX, período áureo da borracha, o Mercado
Municipal Adolpho Lisboa não fica atrás em matéria de prazos vencidos:
fechado há mais de seis anos, tem as obras repetidamente paralisadas
pelo Iphan. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público do
Amazonas, desde 2008 tramita um inquérito para apurar as condições de
funcionamento da feira ao lado do Mercado. A situação é intrigante, já
que os comerciantes tiveram que sair justamente por causa das obras. Uma
inspeção realizada em maio deste ano ainda encontrou irregularidades na
execução da reforma.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura, por meio de sua assessoria,
disse não ter conhecimento do processo envolvendo os feirantes, mas
afirmou que as obras devem ser concluídas ainda este ano e explica a
lentidão: “Trata-se de espaço do século passado, que precisa de mais
cuidado”.
Será que este campeonato de descaso se estende até a Copa de 2014?
Gabriela Nogueira Cunha
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/patrimonio-em-perigo-10
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