O segundo maior acervo do Brasil com peças referentes ao período
imperial vai voltar a ser exposto ao público. Fechado desde 2008 por
problemas de infraestrutura e falta de dinheiro para concluir as obras
de restauração, o Museu Mariano Procópio deve ser reaberto em maio de
2013, justamente no mês em que se comemora o aniversário da cidade que o
abriga, Juiz de Fora. No ano passado, um projeto enviado pela diretoria
da instituição foi aprovado no Edital de Modernização de Museus 2011,
do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que garante o investimento de
cerca de R$ 230 mil do Governo Federal para melhorias nos três prédios
do complexo e restauração de peças danificadas do acervo. A prefeitura
do município se comprometeu a arcar com os outros R$ 57 mil necessários.
O dinheiro oriundo de cofres federais só será liberado após as
eleições.
“É uma parceria entre o Ibram e a secretaria de cultura”, diz o
presidente do Instituto, José do Nascimento Jr., que, nesta semana,
visitou a cidade mineira para selar o compromisso. “Entendemos que o
museu é de importância nacional e vamos colaborar para que ele volte a
funcionar da melhor forma”.
O Museu carece de funcionários: atualmente, conta com 21 efetivos e
três temporários para dar conta de um complexo que abrange 78 mil metros
quadrados, entre área construída (sendo três prédios de importância
histórica) e um parque a céu aberto. No passado, obras de restauração
indevidas prejudicaram tanto a parte física dos imóveis quanto algumas
das 53 mil peças que integram o acervo. O estopim para o fechamento de
uma das construções, a Villa Ferreira Lage, erguida em 1861, foi uma
inundação após forte chuva: a estrutura ficou prejudicada, partes do
reboco da parede caíram. Já o Prédio Mariano Procópio, onde fica a
Galeria de Belas Artes, projetado pelo escultor Rodolfo Bernardelli na
década de 1920, apresenta fissuras na estrutura e irregularidades no
telhado decorrentes de obras mal feitas antigamente. Ambos foram
interditados em 2008.
A maioria dos problemas ainda não foi reparada adequadamente por falta
de dinheiro, já que, para complicar ainda mais a situação, as finanças
do museu foram congeladas pela Operação João de Barro
da Polícia Federal, que investigou no mesmo ano funcionários ligados à
prefeitura por desvio de verbas públicas federais. Sem investimento em
manutenção ou restauração, a antiga residência do comendador Mariano
Procópio Ferreira Lage, amigo de D. Pedro II e idealizador da Estrada
União Indústria (que ligava Petrópolis à Minas Gerais), permanece com as
portas fechadas.
Hoje, o diretor Douglas Fasolatto corre contra o tempo para captar
recursos e recuperar o acervo e os prédios – já foram refeitos o piso, o
telhado e as instalações elétricas da Villa, por exemplo. “Estamos
fazendo também o segundo levantamento da história do acervo, tanto para
conhecê-lo melhor, quanto para garantir sua segurança”. Ele conta que,
mesmo fechado ao público, o museu está a todo vapor na parte de
pesquisa. “Nunca antes se produziu tanto”, anima-se o diretor. Uma
parceria firmada com a Escola de Belas Artes da UFJF levou à reserva
técnica cinco grupos de estudo. No final do ano, será lançada a primeira
edição dos Anais da Fundação Museu Mariano Procópio.
A historiadora da arte Maraliz Christo é a coordenadora de um dos
grupos de pesquisa que unem a UFJF e o museu e conta que, apesar do
progresso nos últimos anos, ainda há muito o que ser feito. "Apesar do
esforço da atual direção, o fato de o museu estar fechado limita
muitíssimo o trabalho do pesquisador, pela impossibilidade do contato
direto e frequente dos alunos com as peças e sua documentação. Hoje,
todo o processo de consulta é lento e restrito, devido às obras em curso
nos prédios que abrigam as coleções e à falta de funcionários".
Paixão antiga
O crítico de arte e professor da PUC-Rio, Elmer Correia Barbosa,
frequenta o museu Mariano Procópio desde que era criança, quando
estudava num colégio próximo ao parque. Apaixonado pelo acervo referente
às pinturas dos séculos XVIII e XIX, Barbosa lembra algumas
preciosidades abrigadas no complexo. “O acervo de pintura do museu é
excelente. Lá está, por exemplo, a pintura ‘Tiradentes esquartejado’, do
Pedro Américo. Esse quadro é impressionante, porque se faz uma pintura
não do ponto de vista de um romantismo típico e piegas, é uma ilustração
da parte mais crítica. Talvez seja um dos melhores trabalhos românticos
feitos nesse período”.
Ele lembra que outro forte do acervo são pinturas de paisagens do Vale
do Paraíba, do percurso das fazendas mineiras do XIX, e também outas
partes do país. “Alfredo Ferreira Lage, filho do Mariano Procópio, era
um colecionador de arte. Ele arrematou muita coisa importante do período
do Império; seu pai era da intimidade do Imperador”. Para reforçar
essa proximidade entre D. Pedro II e Mariano Procópio, Correia Barbosa
lembra um fato que considera interessante: a casa do comendador recebeu a
primeira linha telefônica interestadual do Brasil, vinda justamente do
palácio de verão da monarquia (atual Museu Imperial de Petrópolis), no
final do século XIX. Dada à importância artística, cultural e histórica
do museu, o professor lamenta a falta de recursos financeiros.
“O museu tem instalações muito boas, um acervo incrível, um prédio
interessantíssimo do ponto de vista arquitetônico. Ele só precisa de
investimento. Como é administrado pela prefeitura, não tem os recursos
necessários. Cultura custa caro e as prefeituras não dão valor a isso”. E
acrescenta: “No Brasil, não se ensina a ver. Crianças não aprendem a ver e, por isso não entendem a arte. A pintura fica sendo bonita ou feia, mas arte não é isso. O aprendizado de ver só é possível nos museus, lá se ensina a apurar os sentidos ”.
Breve histórico
Fundado em junho de 1921, o museu Mariano Procópio ocupou,
inicialmente, apenas um prédio, a Villa Ferreira Lage, construída no
terreno da chácara de Alfredo Ferreira Lage, filho do comendador Mariano
Procópio (1821/1872), político dos tempos do Império. No ano seguinte, o
aumento do acervo fez com que um anexo fosse projetado: de autoria de
Rodolfo Bernadelli, tratou-se da primeira construção com finalidade de
museu erguida no Brasil. Ferreira Lage era colecionador de arte e doou à
fundação todo o seu acervo, que conta com esculturas de artistas como
Marius, Clodion, José Otávio Correia Lima e Jean Mercié; pinturas dos
franceses Charles Daubgny e Jean Fragonard, do holandês Willem Roelofs e
de artistas brasileiros como Pedro Américo e Rodolfo Amoedo. Peças
mobiliárias do século XVI ao XIX também foram adquiridas pelo dono da
chácara, grande parte oriunda do Palácio de São Cristóvão, antiga
residência da família real, cujos pertences foram leiloados após a
Proclamação da República.
Por Alice Melo
O Museu Mariano Procópio é maravilhoso.
ResponderExcluir