terça-feira, 24 de julho de 2012

Capela de São Miguel Arcanjo - Tesouro paulista

satisfeito com a transferência da Vila de Santo André da Borda do Campo para São Paulo de Piratininga, em 1560, Piquerobi, irmão do cacique Tibiriçá, guiou os índios guaianás para o leste. Deixando as imediações do Pátio do Colégio, o grupo instalou-se nas proximidades do rio Tietê, na região de Ururaí. A movimentação chamou a atenção da Companhia de Jesus, que, com medo de perder fiéis, deu ao padre José de Anchieta a missão de reencontrá-los. Assim começa a história da igreja mais antiga de São Paulo, que completou na última quarta-feira, 18 de julho, 390 anos.  A Capela de São Miguel Arcanjo, situada no distrito de São Miguel Paulista, foi construída em 1622, e hoje é tombada pelo patrimônio histórico a nível federal (Iphan), estadual (Condephaat) e municipal (Conpresp). Desde 2006, a igrejinha passa por um longo processo de restauro que já deu origem a um museu e à redescoberta de duas pinturas murais escondidas atrás dos altares. Segundo o gestor do lugar, Alexandre Galvão, essas imagens – avistadas pela primeira vez por volta de 1940 – formam o único registro remanescente desta arte do período colonial e revelam curiosidades a cerca da São Paulo daquela época.
“São as mais antigas do Brasil, datadas do século XVII, e apresentam elementos tanto cristãos quanto indígenas. São importantíssimas, pois nos mostram que o período colonial paulista não era pobre em elementos artísticos, como se acreditava, e também revelam que as igrejas neste período não eram brancas como estamos acostumados a ver, mas ricamente ornamentadas”, explica.

Do Vaticano para São Paulo
Incrustada no ponto mais alto em relação ao leito do Tietê, a capela de São Miguel, que permanece de pé, não representa a construção original de bambu e sapê levantada por padre José de Anchieta, ainda em 1560, tão logo alcançou os antigos discípulos guaianás em Ururaí. Desta primeira igreja restaram apenas informações documentadas em registros da Companhia de Jesus, descobertos no Vaticano pela historiadora Roseli Santaella, coordenadora da equipe responsável pela recuperação oficial da história local. O documento mais antigo é uma carta endereçada ao padre Diogo Lainez, de 12 de junho de 1561, trazendo elementos que ajudam a entender o desenvolvimento do povoado.
Sobre a existência de duas igrejas no mesmo local, mas em anos diferentes, Roseli explica: “Quando os jesuítas escolhiam um ponto pra iniciar um trabalho de evangelização, faziam uma construção rudimentar no local, mas com o tempo ela ia sendo modificada e melhorada. Estes documentos revelam a real antiguidade do bairro de São Miguel. As pessoas confundem o ano de construção da igreja, em 1622, com a fundação da aldeia, mas ela foi fundada em 1560 como um ponto de apoio ao Pátio do Colégio”.
Para abrigar estes achados, assim como toda a informação histórica e arquitetônica da capela e o acervo de artes sacras originais desde o século 16, seus administradores se viram obrigados a instalar o museu, em 2010. Mas quem pretende ver de perto as pinturas murais precisa se apressar, ou só encontrarão reproduções fotográficas. Segundo Galvão, as gravuras estão sendo cuidadosamente restauradas, mas quando o processo for concluído – o que deve acontecer em meados de novembro – elas serão “escondidas” novamente atrás dos altares.
“Esta é uma medida que tem como objetivo a sua conservação, as imagens só resistiram até os dias de hoje porque estavam protegidas pelos altares de madeira. Todos que têm visitado a capela durante a restauração são privilegiados com a oportunidade de observar as pinturas integralmente, o que dificilmente acontecerá nos próximos séculos”, conclui o gestor. A historiadora, no entanto, lamenta o fato. Segundo ela, é uma pena que as artes voltem a ficar longe das vistas de quem visita a velha igreja. “Foi uma batalha tão grande para restaurar a igreja e agora ela vai esconder o que tem de mais valioso”, diz.
Por volta de 1622, época em que a capela foi reconstruída, São Miguel era uma peça importante do sistema defensivo da Vila de São Paulo e sua posição geográfica facilitava o trabalho missionário dos jesuítas, servindo como polo de atração de outras tribos que ficavam espalhadas pela região. Passados 390 anos, hoje ela não só é um marco da presença jesuítica em São Paulo, como uma constante lembrança de suas origens.

Serviço
A Capela e o Museu de São Miguel Arcanjo ficam na Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, s/nº, em São Miguel Paulista.
Visitação: de quinta a sábado, das 10h às 12h e das 13h às 16h. Às quintas e sextas é preciso agendar visita pelo telefone (11) 2032-3921 ou pelo e-mail capela.visitacao@hotmail.com.
Ingressos: R$ 4,00.
Mais informações no blog capeladesaomiguelarcanjo.blogspot.




 

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