Em 1951, o governo indiano convidou Le Corbusier (arquiteto
franco-suiço), para trabalhar no projeto
de Chandigarh, a nova capital do
estado do Punjab, no norte do país. Le Corbusier criou o plano diretor,
enquanto o projeto dos setores individuais e da maioria das edificações foi
feita por terceiros. Todavia, Le Corbusier projetou os edifícios simbólicos do
governo, que posicionou no terreno mais alto no cume do conjunto, tendo as majestosas
bases do Himalaia mais além, de um modo que lembra a Acrópole de Atenas. Ele
agrupou quatro edifícios importante em torno de uma grande praça cerimonial: o
palácio do governador (não construído), o Edifício do Secretariado, o Edifício
do Parlamento e o Palácio da Justiça.
Todas essas edificações mesclam a disciplina racional – tão
evidente em suas primeiras obras – com a liberdade escultórica de seus projetos
posteriores. O Edifício do Parlamento, por exemplo, tem planta baixa quase
quadrada com fileiras sobrepostas de escritórios em duas laterais. A câmara
legislativa é circular, localizada na base de um hiperbolóide truncado ( uma
curva hiperbólica com rotação no eixo central) dotado de lanternins no topo
para filtrar o forte sol indiano. O controle da luz era de grande importância,
pois as sombras amenizam as altas temperaturas. Os brises foram projetados para
introduzir luz solar indireta e emoldurar vistas. O concreto – material
preferido de Le Corbusier – era bastante adequado para o contexto da Índia.
Requer muita mão de obra – abundante no país -, mas sua produção é barata. Sua
massa também ameniza os extremos climáticos.
Segundo o relato da
arquiteta Renata Semin em sua viagem a Chandigarh – no site Vitruvius – O
projeto urbano da cidade é organizado através de um traçado viário ortogonal,
com uma clara hierarquia de circulação e nas proporções de uma nova capital,
com as superquadras na escala da vida cotidiana e familiar dos cidadãos. As unidades
de vizinhança explicitam os princípios do movimento moderno e da nova condição
política pós-colonial dos indianos. Os centros comercais (inner market) são
mais atraentes e dinâmicos que em Brasília por terem mais andares com
escritórios e com mais ruas internas que estacionamentos formando um conjunto
muito movimentado por pedestres que percorrem
as galerias e as ruelas cheias de árvores.
No relato, Renata fala de sua chegada em frente ao conjunto
de edifícios: Corte, Assembléia, Secretariado e a incrível “Mão Aberta”. Nas
palavras da arquiteta – “Emocionada diante da compreensão da integridade da
arquitetura: são edifícios lindíssimos, ,com a impressionante carga simbólica
de uma nova era de liberdade para o povo indiano, explícita pela implantação,
pelas proporções, pelo tratamento das superfícies – cores, volumes, quebrasois
– e pelas tapeçarias do Le Corbusier. “
Em sua descrição do prédio da assembléia, Renata Semin fala
das formas parabólicas hiperbólicas , dos espaços internos acessíveis com o maior
requinte arquitetônico com as frestas de luz no concreto, os capitéis tocando
no teto preto, as rampas e as proporções dos grandes volumes vazios no interior
do tronco irregular de cilindro cheio de relevos coloridos. Marcas da
arquitetura de um projetista visionário.
A grande Mão Aberta
da praça é uma obra de arte e se move sutilmente com o vento, mesmo o material
sendo de aço. Porém, a praça é quase inacessível a população, sendo usada mais
pelos magistrados. A população desconhece
a escultura, seu significado e também o significado da praça como um
todo, projetada para manifestações coletivas.
Hoje em dia Chandigarh encontra se perfeitamente adequada as exigências de uma cidade moderna, e a integração do povo com a cidade é feita de uma forma naturalíssima, e os dados estatísticos comprovam realmente que Chandigarh funciona, é das cidades mais ricas da Índia, com os menores índices de criminalidade. Corbusier projetou Chandigarh com vista para o futuro e hoje em dia é quase que uma cidade modelo, e isto levanta a seguinte questão, será que se deve projetar apenas tendo em vista o Presente, ou o Futuro?
FAZIO, Michael; MOFFETT,Marian; WODEHOUSE, Lawrence. A história da
arquitetura mundial. 3ª edição. Porto Alegre, Bookman/McGrawHill, 2011,
616 p.
SEMIN, Renata. Chandigarh. O projeto visionário de Le Corbusier. Arquiteturismo, São Paulo, 06.064, Vitruvius, jun 2012
SEMIN, Renata. Chandigarh. O projeto visionário de Le Corbusier. Arquiteturismo, São Paulo, 06.064, Vitruvius, jun 2012
Le Corbusier e a planta de Chandigarh
Planta de Chandigarh
Prédio da Assembléia
Foto Projeto Blog
Vista aérea do Prédio da Assembléia
Foto Renata Semin
Detalhe dos brises no Prédio da Assembléia
Foto Renata Semin
Fachada do edifício da Corte da Justiça
Foto Renata Semin
Foto Renata Semin
Detalhe do prédio da Assembléia
Foto Projeto Blog
A escultura da “Mão aberta”, de Le Corbusier
Foto Renata Semin
Foto Renata Semin
Prédio da Secretaria
Foto Projeto Blog
Vídeo produzido pela USC School of Architecture (EUA), sobre Chandigarh
A ultima questão não faz sentido. Fazer cidade implica sempre pensar no futuro.
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