quarta-feira, 25 de julho de 2012

Chandigarh - A visão de cidade de Le Corbusier na Índia


Em 1951, o governo indiano convidou Le Corbusier (arquiteto franco-suiço), para trabalhar no projeto  de Chandigarh,  a nova capital do estado do Punjab, no norte do país. Le Corbusier criou o plano diretor, enquanto o projeto dos setores individuais e da maioria das edificações foi feita por terceiros. Todavia, Le Corbusier projetou os edifícios simbólicos do governo, que posicionou no terreno mais alto no cume do conjunto, tendo as majestosas bases do Himalaia mais além, de um modo que lembra a Acrópole de Atenas. Ele agrupou quatro edifícios importante em torno de uma grande praça cerimonial: o palácio do governador (não construído), o Edifício do Secretariado, o Edifício do Parlamento e o Palácio da Justiça.
Todas essas edificações mesclam a disciplina racional – tão evidente em suas primeiras obras – com a liberdade escultórica de seus projetos posteriores. O Edifício do Parlamento, por exemplo, tem planta baixa quase quadrada com fileiras sobrepostas de escritórios em duas laterais. A câmara legislativa é circular, localizada na base de um hiperbolóide truncado ( uma curva hiperbólica com rotação no eixo central) dotado de lanternins no topo para filtrar o forte sol indiano. O controle da luz era de grande importância, pois as sombras amenizam as altas temperaturas. Os brises foram projetados para introduzir luz solar indireta e emoldurar vistas. O concreto – material preferido de Le Corbusier – era bastante adequado para o contexto da Índia. Requer muita mão de obra – abundante no país -, mas sua produção é barata. Sua massa também ameniza os extremos climáticos.
Segundo  o relato da arquiteta Renata Semin em sua viagem a Chandigarh – no site Vitruvius – O projeto urbano da cidade é organizado através de um traçado viário ortogonal, com uma clara hierarquia de circulação e nas proporções de uma nova capital, com as superquadras na escala da vida cotidiana e familiar dos cidadãos. As unidades de vizinhança explicitam os princípios do movimento moderno e da nova condição política pós-colonial dos indianos. Os centros comercais (inner market) são mais atraentes e dinâmicos que em Brasília por terem mais andares com escritórios e com mais ruas internas que estacionamentos formando um conjunto muito movimentado por pedestres que percorrem  as galerias e as ruelas cheias de árvores.
No relato, Renata fala de sua chegada em frente ao conjunto de edifícios: Corte, Assembléia, Secretariado e a incrível “Mão Aberta”. Nas palavras da arquiteta – “Emocionada diante da compreensão da integridade da arquitetura: são edifícios lindíssimos, ,com a impressionante carga simbólica de uma nova era de liberdade para o povo indiano, explícita pela implantação, pelas proporções, pelo tratamento das superfícies – cores, volumes, quebrasois – e pelas tapeçarias do Le Corbusier. “
Em sua descrição do prédio da assembléia, Renata Semin fala das formas parabólicas hiperbólicas , dos espaços internos acessíveis com o maior requinte arquitetônico com as frestas de luz no concreto, os capitéis tocando no teto preto, as rampas e as proporções dos grandes volumes vazios no interior do tronco irregular de cilindro cheio de relevos coloridos. Marcas da arquitetura de um projetista visionário.
A grande Mão Aberta da praça é uma obra de arte e se move sutilmente com o vento, mesmo o material sendo de aço. Porém, a praça é quase inacessível a população, sendo usada mais pelos magistrados. A população desconhece  a escultura, seu significado e também o significado da praça como um todo, projetada para manifestações coletivas.
Hoje em dia Chandigarh encontra se perfeitamente adequada as exigências de uma cidade moderna, e a integração do povo com a cidade é feita de uma forma naturalíssima, e os dados estatísticos comprovam realmente que Chandigarh funciona, é das cidades mais ricas da Índia, com os menores índices de criminalidade. Corbusier projetou Chandigarh com vista para o futuro e hoje em dia é quase que uma cidade modelo, e isto levanta a seguinte questão, será que se deve projetar apenas tendo em vista o Presente, ou o Futuro?


FAZIO, Michael; MOFFETT,Marian; WODEHOUSE, Lawrence. A história da arquitetura mundial. 3ª edição. Porto Alegre, Bookman/McGrawHill, 2011, 616 p.
SEMIN, Renata. Chandigarh. O projeto visionário de Le Corbusier. Arquiteturismo, São Paulo, 06.064, Vitruvius, jun 2012 















Le Corbusier e a planta de Chandigarh















Planta de Chandigarh















Prédio da Assembléia
Foto Projeto Blog

 















Vista aérea do Prédio da Assembléia
Foto Renata Semin















Detalhe dos brises no Prédio da Assembléia
Foto Renata Semin

 













Fachada do edifício da Corte da Justiça
Foto Renata Semin 

















Detalhe do prédio da Assembléia
Foto Projeto Blog 





















A escultura da “Mão aberta”, de Le Corbusier
Foto Renata Semin 















Prédio da Secretaria
Foto Projeto Blog


Vídeo produzido pela USC School of Architecture (EUA), sobre Chandigarh

Um comentário:

  1. A ultima questão não faz sentido. Fazer cidade implica sempre pensar no futuro.

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