Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, que unia Petrópolis a Magé, deve ser reativada até 2016.
É fim do século XIX. D. Pedro II está em Magé – município da Baixada
Fluminense que fica à beira da Baía de Guanabara – e embarca em um trem rumo a Petrópolis.
Em menos de uma hora o imperador vai passar pela Mata Atlântica e chegar ao seu
destino. A linha que o monarca usava para subir a serra em 1883 não existe
mais. Desativada em 1964, a Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará foi um
símbolo de modernidade no Império.
Agora, quase 50 anos após sua desativação, a ferrovia está perto de voltar a
transportar passageiros. O governo do estado do Rio de Janeiro e as prefeituras
de Petrópolis e Magé assinaram um acordo para reativar a estrada de ferro, que vai
de Raiz da Serra, em Magé, até a Cidade Imperial, um trecho de seis
quilômetros. Os estudos de viabilidade devem começar neste trimestre e,
considerando todo o trâmite burocrático e possíveis atrasos, o trem deve voltar
a subir a serra em 2016. Com o projeto, que tem custo estimado de R$72 milhões,
a via será eletrificada e conectada à malha urbana da SuperVia, empresa que
opera os trens na Região Metropolitana fluminense. Assim, moradores da serra
vão poder chegar à estação Barão de Mauá, ponto de partida do futuro trem-bala
entre Rio e São Paulo, em uma hora e meia.
Antonio Pastori, presidente da Associação Fluminense de Preservação
Ferroviária, está animado com a chance de ver Petrópolis novamente conectada ao
Rio de Janeiro pelos trilhos. Apesar da opção inicial do governo de usar
composições turísticas, o pesquisador acredita que a demanda vai forçar a
criação de um serviço regular de passageiros, especialmente para trabalhadores
e estudantes que precisam enfrentar de três a quatro horas diárias de viagem e
muito congestionamento até a capital para seguir com seus afazeres diários.
“Começa com o trem turístico para ir ajustando. A ideia é, depois, colocar
um comercial, com viagens todo dia. Dez descendo e dez subindo. Trazer a
ferrovia de volta é tão bom que se ficar só no turismo será um desperdício de
uma oportunidade fantástica”, alerta Pastori. “Os turísticos são poucas
viagens. À medida que a linha for se mostrando viável, vamos colocar um trem
comercial funcionando todo dia”, diz ele, que faz parte do grupo de trabalho
para a reimplantação da linha.
Carlos Gabriel Guimarães, professor de História da UFF, lembra que a ligação
entre Petrópolis e o Rio de Janeiro foi muito importante para o transporte de
pessoas e mercadorias no século XIX. “É bom lembrar que nessa região de Serra
Acima foram cultivados tanto produtos de subsistência quanto café, porque você
chega ao Vale do Rio Paraíba”, conta. “O que antes era feito por tropas de
mulas passa a ser feito pelos trilhos”, completa o pesquisador. A previsão é
que, uma vez iniciada, a obra fique pronta em menos de dois anos. A partir daí,
os petropolitanos vão poder voltar a descer a serra desfrutando a paisagem da
mata em uma viagem silenciosa, rápida e sem congestionamentos. Como fazia o imperador.
Estrada de ferro Príncipe do Grão Pará
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