A Fortaleza Santa Cruz de Anhatomirim não ofereceu grande resistência
quando a Ilha de Santa Catarina foi tomada pelos espanhóis, em 1777.
Isso, apesar de sua importância estratégica inquestionável: ela era o
vértice principal do triângulo defensivo da Barra Norte, formado também
pelos fortes São José da Ponta Grossa e Santo Antônio de Ratones. O
conjunto arquitetônico projetado pelo engenheiro militar José da Silva
Paes a partir de 1739, que consolidou a ocupação do sul do Brasil,
permanece de pé. Sua restauração ganhou fôlego na década de 1980, quando
a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) assumiu a manutenção, e
hoje faz parte de um ambicioso projeto de documentação e valorização do
patrimônio. Trata-se do Acervo Documental de Santa Catarina no Banco de
Dados Mundial sobre Fortificações.
Anhatomirim foi a primeira a ser adotada pela universidade, em 1979. Os
oito canhões de ferro fundido ainda presentes são o que restou da
artilharia de 70 peças de calibres variados. Concluída a restauração
física do triângulo da Barra Norte, foi necessário intensificar a
revitalização desses monumentos com a criação de um portal para agregar
toda a documentação histórica encontrada. “As informações eram tantas
que a gente teve necessidade de aprofundar os estudos. E foi assim que
surgiu o Projeto Fortalezas Multimídia, como forma de organizar e
compartilhar essas informações”, explica Roberto Tonera, coordenador do
projeto e arquiteto da UFSC.
A mais nova ambição do Fortalezas Multimídia é uma pesquisa realizada
em dez instituições catarinenses que possuem imagens e textos sobre as
fortificações existentes no estado, entre elas o Arquivo Público de
Santa Catarina, a Biblioteca Universitária da UFSC e a 14ª Brigada de
Infantaria Motorizada/Exército. A intenção é digitalizar todo o material
até outubro e democratizá-lo através do Banco de Dados Mundial sobre Fortificações, que é uma espécie de Wikipédia das fortificações, idealizado por Tonera, em 2008.
O fortalezas.org foi pensado para que pesquisadores, instituições e
curiosos o alimentem com informações – além de fotos, vídeos, documentos
e bibliografias – sobre fortes do Brasil e do mundo, existentes ou já
desaparecidos, de forma colaborativa e espontânea. Para Tonera, a
iniciativa é pioneira. “Nosso banco de dados tem algo em torno de 20
parâmetros diferentes de pesquisa, dados que podem ser cruzados a fim de
realizar estudos comparativos. Nem o Iphan tem uma plataforma de dados
como esta”, afirma.
Para o historiador Jaime Silva, que integra a equipe do Fortalezas
Multimídia, o ideal é que, naturalmente, instituições detentoras de
documentações históricas passem a se cadastrar na plataforma,
compartilhando suas informações: “É preciso que se efetue também a busca
e a difusão dos documentos históricos sobre as fortificações, guardados
e isolados em diferentes arquivos”.
Por Gabriela Nogueira Cunha
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