Desde
abril funciona na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, o primeiro Museu da
Liturgia da América Latina. Desejo antigo do historiador Olinto Rodrigues, do
Padre Ademir Longatti e de toda a comunidade tiradentina, que ansiava por um
local adequado e seguro para o armazenamento e exposição do rico acervo
pertencente à Paróquia de Santo Antônio, a construção do espaço se tornou
possível por meio do apoio direto e não incentivado de R$ 8,8 milhões do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Banco investirá,
ainda, R$ 1,7 milhão para a manutenção da instituição.
Concebido,
coordenado e implantado pelo Santa Rosa Bureau Cultural, o projeto contemplou a
recuperação de mais de 430 peças dos séculos XVIII a XX, entre pinturas,
prataria, ex-votos, esculturas, imagens, objetos em metal e madeira,
paramentos, missais e outros artigos religiosos de diversas tipologias. Tombado
pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o conjunto permaneceu guardado
em sacristias durante longo período, estando em acentuado estado de
deterioração.
Para a
instalação do museu, todos os elementos característicos da construção (que
sofreu três acréscimos durante o século XX, totalizando 553 m2) foram mantidos
ou recuperados, incluindo suas cores originais. Um novo anexo, com 185 m2, foi
levantado ao fundo para abrigar a reserva técnica e o espaço educativo.
O projeto
museográfico criou um espaço de linguagem e ambiência contemporâneas, com belas
e sensíveis instalações audiovisuais que dialogam com os objetos expostos. “O
anseio do museu é proporcionar um outro tipo de experiência frente a um acervo
estático. É criar uma atmosfera para que o visitante seja transportado para um
outro universo e viva um momento de imersão cultural e transcendência,
independente de sua crença ou religião”, afirma Eleonora Santa Rosa, diretora
do Santa Rosa Bureau Cultural e ex- Secretária de Estado de Cultura de Minas
Gerais (2005-2008), responsável pela concepção da iniciativa.
Diretora
geral do projeto de implantação, Eleonora convidou para equipe técnica de
conceituação do museu o designer Ronaldo Barbosa (responsável pelo projeto
museográfico, visual e concepção arquitetônica), o filósofo Carlos Antonio
Leite Brandão (responsável pelo conteúdo e textos de base), o Padre Lauro Palú
e o Padre Marco Antonio Morais Lima (assessores litúrgicos) e reuniu uma equipe
multidisciplinar que gerou 380 empregos diretos e indiretos. Desde sua
abertura, a direção do museu está a cargo de Maria Cristina Seabra de Miranda,
arquiteta e especialista em preservação do patrimônio histórico.
Percurso
museográfico
O pátio
externo, uma área de cerca de 260 m2 aberta ao público, é um espaço de
acolhimento e reflexão, uma ruptura com o mundo cotidiano. O muro de pedra teve
sua extensão original recuperada e ganhou um painel com símbolos que são
reconhecidos durante a visita ao museu. Sete totens, inspirados em antigos
confessionários, reproduzem salmos, provérbios, trechos do Genesis, Eclesiastes
e a trilha sonora do museu composta com exclusividade por Marco Antonio
Guimarães, fundador e diretor do grupo de música instrumental Uakti,
reconhecido internacionalmente.
O piso de
cimento liso tem intervenções em mármore e granito, compondo tapetes em pedra
que lembram estruturas encontradas no Vaticano e estão posicionadas aos pés dos
bancos, instalados sob as copas das árvores. Uma mesa com treze assentos
dispostos de um único lado faz referência à Santa Ceia, mas é usada como
suporte para a linha do tempo, que traz informações sobre a cidade e o museu.
Ao fundo, uma espiral de pedras sobre o chão cimentado, inspirada no labirinto
da Catedral de Chartres, convida o visitante a uma pequena caminhada de
meditação e busca interior.
O hall de
entrada estabelece uma relação entre a liturgia, a cultura e a comunidade
civil, prestando uma homenagem à população tiradentina. O mosaico no chão
representa os tradicionais tapetes de serragem confeccionados para festejos
culturais e religiosos da cidade e a “tela trilho” conjunto de monitores
dispostos verticalmente na parede exibe imagens de celebrações filmadas durante
o ano passado em igrejas e nas ruas de Tiradentes e região.
De pé
direito alto, o hall é o único espaço que liga a parte térrea (o antigo porão
da Casa Paroquial), onde estão as salas “Liturgia da Palavra” e “Eucaristia e
Páscoa”, ao piso superior do museu, com as salas “Sacramentos e Sacramentais”,
“Devoção Popular” e “Gestos Litúrgicos”.
A sala
“Liturgia da Palavra” é dedicada aos ensinamentos e aos que difundiram a
palavra divina. Reúne elementos diretamente ligados à leitura e ao
conhecimento, como os missais (livro de orações e textos utilizados nas missas
durante o período de um ano) e suas estantes de apoio, e artigos que compõe o
ambiente adequado para a transmissão da palavra, como os paramentos (vestes
oficiais do clero nas funções do culto divino). Destaque para a “Estola de
veludo com galões e franjas” (séc. XIX), produzida com fios de ouro, e o
“Missal romano” (1721, Bélgica), uma das peças mais antigas do acervo e a que
demandou maior esforço de recuperação.
Seguindo
o percurso, o visitante chega à sala “Eucaristia e Páscoa” (o principal
sacramento e o mais importante ciclo litúrgico), que exibe as paredes de pedra
originais da casa e teve o cimento liso do piso também empregado nas bases e
suporte das peças, dando amplitude ao espaço e foco nos objetos expostos. Duas
grandes bancadas envidraçadas ocupam a maior parte da sala. Uma reúne 30
castiçais e dois pares de candelabros em prata e a outra, 18 castiçais de
estanho e 18 castiçais mais três tocheiros em madeira, todos dos séculos XVIII
e XIX.
Entre
cálices, turíbulos (ou incensórios), galheteiros e navetas (para guardar
incenso), há uma trabalhada “Urna do Santíssimo ou dos pré-santificados” (séc. XVIII),
em madeira recortada e entalhada, que tem fechadura à chave para o
armazenamento das hóstias da missa de Sexta-feira da Paixão, e um raríssimo
conjunto de três “Palmas de altar” (séc. XVIII e XIX), de papel, madeira e
malacacheta, que são as únicas restantes em Minas Gerais.
No
pavimento superior, a sala “Sacramentos e Sacramentais” abre espaço para o
dia-a-dia da fé. Apresenta peças usadas nos ritos dos sete sacramentos, como
uma concha de batismo, um confessionário e os frascos dos Santos Óleos, e nas
práticas cotidianas de comunhão com o divino, como a pia de água benta,
crucifixos e imagens de Cristo, como a escultura “Senhor da Coluna” (séc.
XVIII), de João Ferreira Sampaio, que representa a flagelação de Cristo,
despido de suas vestes e atado à coluna do palácio.
A sala
“Devoção Popular” representa as muitas celebrações religiosas de Tiradentes.
Todos os itens expostos no Museu da Liturgia podem ser solicitados para o uso
da comunidade nestes festejos, como as lanternas e cruzes processionais ou as
imagens de santos cultuados na cidade, como Santana Maestra, padroeira dos
mineradores, carpinteiros, marceneiros e dos lares.
Entre as
imagens, há diferentes exemplares de roca, produzidas em estruturas de madeira
e vestidas com trajes de tecidos, que transmitem realismo e são usadas em
procissões. Destaque para a escultura de “São Jorge” com escudo de centurião
(séc. XVIII), de Antônio da Costa Santeiro, que, esculpida em escala humana e
com articulações nas pernas, saía na procissão de Corpus Christi montada em
cavalos.
Este
espaço apresenta ainda três pinturas do artista tiradentino Manoel Victor de
Jesus, como “Nossa Senhora do Desterro” (1788), uma extensa vitrine com 43
resplendores e seis diademas, que adornam as cabeças de santos e santas,
respectivamente, e um conjunto de nove pinturas de ex-votos, acompanhadas por
uma bancada com 26 mãos de imagens de roca.
A última
sala do museu foi destinada aos “Gestos Litúrgicos”. O ambiente, especialmente
iluminado e com a trilha sonora mais presente, é um convite para que o
visitante, no final do percurso, se sente e assista ao vídeo, e se integre às
belíssimas imagens exibidas em um mosaico com onze monitores, que retrata sinais
simples, mas cheios de significados, como juntar as mãos, erguê-las aos céus,
ajoelhar-se ou simplesmente inclinar a cabeça.
Projeto
multimídia
Com a
proposta de explorar as relações entre o passado e o presente e entre o
patrimônio material e imaterial a partir de peças do acervo, o projeto
educativo do Museu da Liturgia foi especialmente concebido de maneira a atender
aos diferentes interesses de grupos, sejam eles moradores de Tiradentes ou
turistas, jovens ou adultos, religiosos ou não religiosos. Para as crianças,
marionetes e jogos lúdicos possibilitam trabalhar e ampliar os conteúdos de
forma divertida. Um livreto informativo e monitores treinados presentes nas
salas expositivas auxiliam o visitante independente.
O Museu
da Liturgia conta com dois terminais multimídia (um na sala “Sacramentos e
Sacramentais” e outra na sala do educativo) com tecnologia touchscreen e um
grande volume de imagens, vídeos, textos explicativos, documentos históricos,
mapeamento da edificação e fotos referentes ao acervo. Também disponível em
versão resumida no site www.museudaliturgia.com.br,
esse conteúdo permite a análise dos eixos temáticos abordados no museu e o
aprofundamento no universo litúrgico.
Serviço
Endereço:
R. Jogo de Bola, 15, Centro Tiradentes (MG)
Telefone:
(32) 3355-1552
E-mail:
contato@museudaliturgia.com.br
Horários:
terça a domingo e feriados, das 10h às 17h (encerramento da bilheteria às 16h)
Preços:
R$ 10,00 e R$ 5,00 (estudantes e maiores de 60 anos, mediante comprovante)
entrada gratuita para moradores de Tiradentes
Visitas
orientadas para grupos: terça a sexta, às 10h e às 14h (de 10 a 35 pessoas, com
idade mínima de 6 anos)
Acesso a
pessoas com mobilidade reduzida
Imagem Divulgação
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