quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tiradentes, em Minas Gerais, preserva patrimônio histórico no Museu da Liturgia


Desde abril funciona na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, o primeiro Museu da Liturgia da América Latina. Desejo antigo do historiador Olinto Rodrigues, do Padre Ademir Longatti e de toda a comunidade tiradentina, que ansiava por um local adequado e seguro para o armazenamento e exposição do rico acervo pertencente à Paróquia de Santo Antônio, a construção do espaço se tornou possível por meio do apoio direto e não incentivado de R$ 8,8 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Banco investirá, ainda, R$ 1,7 milhão para a manutenção da instituição.
Concebido, coordenado e implantado pelo Santa Rosa Bureau Cultural, o projeto contemplou a recuperação de mais de 430 peças dos séculos XVIII a XX, entre pinturas, prataria, ex-votos, esculturas, imagens, objetos em metal e madeira, paramentos, missais e outros artigos religiosos de diversas tipologias. Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o conjunto permaneceu guardado em sacristias durante longo período, estando em acentuado estado de deterioração.
Para a instalação do museu, todos os elementos característicos da construção (que sofreu três acréscimos durante o século XX, totalizando 553 m2) foram mantidos ou recuperados, incluindo suas cores originais. Um novo anexo, com 185 m2, foi levantado ao fundo para abrigar a reserva técnica e o espaço educativo.
O projeto museográfico criou um espaço de linguagem e ambiência contemporâneas, com belas e sensíveis instalações audiovisuais que dialogam com os objetos expostos. “O anseio do museu é proporcionar um outro tipo de experiência frente a um acervo estático. É criar uma atmosfera para que o visitante seja transportado para um outro universo e viva um momento de imersão cultural e transcendência, independente de sua crença ou religião”, afirma Eleonora Santa Rosa, diretora do Santa Rosa Bureau Cultural e ex- Secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais (2005-2008), responsável pela concepção da iniciativa.
Diretora geral do projeto de implantação, Eleonora convidou para equipe técnica de conceituação do museu o designer Ronaldo Barbosa (responsável pelo projeto museográfico, visual e concepção arquitetônica), o filósofo Carlos Antonio Leite Brandão (responsável pelo conteúdo e textos de base), o Padre Lauro Palú e o Padre Marco Antonio Morais Lima (assessores litúrgicos) e reuniu uma equipe multidisciplinar que gerou 380 empregos diretos e indiretos. Desde sua abertura, a direção do museu está a cargo de Maria Cristina Seabra de Miranda, arquiteta e especialista em preservação do patrimônio histórico.

Percurso museográfico
O pátio externo, uma área de cerca de 260 m2 aberta ao público, é um espaço de acolhimento e reflexão, uma ruptura com o mundo cotidiano. O muro de pedra teve sua extensão original recuperada e ganhou um painel com símbolos que são reconhecidos durante a visita ao museu. Sete totens, inspirados em antigos confessionários, reproduzem salmos, provérbios, trechos do Genesis, Eclesiastes e a trilha sonora do museu composta com exclusividade por Marco Antonio Guimarães, fundador e diretor do grupo de música instrumental Uakti, reconhecido internacionalmente.
O piso de cimento liso tem intervenções em mármore e granito, compondo tapetes em pedra que lembram estruturas encontradas no Vaticano e estão posicionadas aos pés dos bancos, instalados sob as copas das árvores. Uma mesa com treze assentos dispostos de um único lado faz referência à Santa Ceia, mas é usada como suporte para a linha do tempo, que traz informações sobre a cidade e o museu. Ao fundo, uma espiral de pedras sobre o chão cimentado, inspirada no labirinto da Catedral de Chartres, convida o visitante a uma pequena caminhada de meditação e busca interior.
O hall de entrada estabelece uma relação entre a liturgia, a cultura e a comunidade civil, prestando uma homenagem à população tiradentina. O mosaico no chão representa os tradicionais tapetes de serragem confeccionados para festejos culturais e religiosos da cidade e a “tela trilho” conjunto de monitores dispostos verticalmente na parede exibe imagens de celebrações filmadas durante o ano passado em igrejas e nas ruas de Tiradentes e região.
De pé direito alto, o hall é o único espaço que liga a parte térrea (o antigo porão da Casa Paroquial), onde estão as salas “Liturgia da Palavra” e “Eucaristia e Páscoa”, ao piso superior do museu, com as salas “Sacramentos e Sacramentais”, “Devoção Popular” e “Gestos Litúrgicos”.
A sala “Liturgia da Palavra” é dedicada aos ensinamentos e aos que difundiram a palavra divina. Reúne elementos diretamente ligados à leitura e ao conhecimento, como os missais (livro de orações e textos utilizados nas missas durante o período de um ano) e suas estantes de apoio, e artigos que compõe o ambiente adequado para a transmissão da palavra, como os paramentos (vestes oficiais do clero nas funções do culto divino). Destaque para a “Estola de veludo com galões e franjas” (séc. XIX), produzida com fios de ouro, e o “Missal romano” (1721, Bélgica), uma das peças mais antigas do acervo e a que demandou maior esforço de recuperação.
Seguindo o percurso, o visitante chega à sala “Eucaristia e Páscoa” (o principal sacramento e o mais importante ciclo litúrgico), que exibe as paredes de pedra originais da casa e teve o cimento liso do piso também empregado nas bases e suporte das peças, dando amplitude ao espaço e foco nos objetos expostos. Duas grandes bancadas envidraçadas ocupam a maior parte da sala. Uma reúne 30 castiçais e dois pares de candelabros em prata e a outra, 18 castiçais de estanho e 18 castiçais mais três tocheiros em madeira, todos dos séculos XVIII e XIX.
Entre cálices, turíbulos (ou incensórios), galheteiros e navetas (para guardar incenso), há uma trabalhada “Urna do Santíssimo ou dos pré-santificados” (séc. XVIII), em madeira recortada e entalhada, que tem fechadura à chave para o armazenamento das hóstias da missa de Sexta-feira da Paixão, e um raríssimo conjunto de três “Palmas de altar” (séc. XVIII e XIX), de papel, madeira e malacacheta, que são as únicas restantes em Minas Gerais.
No pavimento superior, a sala “Sacramentos e Sacramentais” abre espaço para o dia-a-dia da fé. Apresenta peças usadas nos ritos dos sete sacramentos, como uma concha de batismo, um confessionário e os frascos dos Santos Óleos, e nas práticas cotidianas de comunhão com o divino, como a pia de água benta, crucifixos e imagens de Cristo, como a escultura “Senhor da Coluna” (séc. XVIII), de João Ferreira Sampaio, que representa a flagelação de Cristo, despido de suas vestes e atado à coluna do palácio.
A sala “Devoção Popular” representa as muitas celebrações religiosas de Tiradentes. Todos os itens expostos no Museu da Liturgia podem ser solicitados para o uso da comunidade nestes festejos, como as lanternas e cruzes processionais ou as imagens de santos cultuados na cidade, como Santana Maestra, padroeira dos mineradores, carpinteiros, marceneiros e dos lares.
Entre as imagens, há diferentes exemplares de roca, produzidas em estruturas de madeira e vestidas com trajes de tecidos, que transmitem realismo e são usadas em procissões. Destaque para a escultura de “São Jorge” com escudo de centurião (séc. XVIII), de Antônio da Costa Santeiro, que, esculpida em escala humana e com articulações nas pernas, saía na procissão de Corpus Christi montada em cavalos.
Este espaço apresenta ainda três pinturas do artista tiradentino Manoel Victor de Jesus, como “Nossa Senhora do Desterro” (1788), uma extensa vitrine com 43 resplendores e seis diademas, que adornam as cabeças de santos e santas, respectivamente, e um conjunto de nove pinturas de ex-votos, acompanhadas por uma bancada com 26 mãos de imagens de roca.
A última sala do museu foi destinada aos “Gestos Litúrgicos”. O ambiente, especialmente iluminado e com a trilha sonora mais presente, é um convite para que o visitante, no final do percurso, se sente e assista ao vídeo, e se integre às belíssimas imagens exibidas em um mosaico com onze monitores, que retrata sinais simples, mas cheios de significados, como juntar as mãos, erguê-las aos céus, ajoelhar-se ou simplesmente inclinar a cabeça.

Projeto multimídia
Com a proposta de explorar as relações entre o passado e o presente e entre o patrimônio material e imaterial a partir de peças do acervo, o projeto educativo do Museu da Liturgia foi especialmente concebido de maneira a atender aos diferentes interesses de grupos, sejam eles moradores de Tiradentes ou turistas, jovens ou adultos, religiosos ou não religiosos. Para as crianças, marionetes e jogos lúdicos possibilitam trabalhar e ampliar os conteúdos de forma divertida. Um livreto informativo e monitores treinados presentes nas salas expositivas auxiliam o visitante independente.
O Museu da Liturgia conta com dois terminais multimídia (um na sala “Sacramentos e Sacramentais” e outra na sala do educativo) com tecnologia touchscreen e um grande volume de imagens, vídeos, textos explicativos, documentos históricos, mapeamento da edificação e fotos referentes ao acervo. Também disponível em versão resumida no site www.museudaliturgia.com.br, esse conteúdo permite a análise dos eixos temáticos abordados no museu e o aprofundamento no universo litúrgico.

Serviço
Endereço: R. Jogo de Bola, 15, Centro Tiradentes (MG)
Telefone: (32) 3355-1552
E-mail: contato@museudaliturgia.com.br
Horários: terça a domingo e feriados, das 10h às 17h (encerramento da bilheteria às 16h)
Preços: R$ 10,00 e R$ 5,00 (estudantes e maiores de 60 anos, mediante comprovante) entrada gratuita para moradores de Tiradentes
Visitas orientadas para grupos: terça a sexta, às 10h e às 14h (de 10 a 35 pessoas, com idade mínima de 6 anos)
Acesso a pessoas com mobilidade reduzida



 













 Imagem Divulgação




















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