quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reabertura do Museu Mariano Procópio

O segundo maior acervo do Brasil com peças referentes ao período imperial vai voltar a ser exposto ao público. Fechado desde 2008 por problemas de infraestrutura e falta de dinheiro para concluir as obras de restauração, o Museu Mariano Procópio deve ser reaberto em maio de 2013, justamente no mês em que se comemora o aniversário da cidade que o abriga, Juiz de Fora. No ano passado, um projeto enviado pela diretoria da instituição foi aprovado no Edital de Modernização de Museus 2011, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que garante o investimento de cerca de R$ 230 mil do Governo Federal para melhorias nos três prédios do complexo e restauração de peças danificadas do acervo. A prefeitura do município se comprometeu a arcar com os outros R$ 57 mil necessários. O dinheiro oriundo de cofres federais só será liberado após as eleições.
“É uma parceria entre o Ibram e a secretaria de cultura”, diz o presidente do Instituto, José do Nascimento Jr., que, nesta semana, visitou a cidade mineira para selar o compromisso. “Entendemos que o museu é de importância nacional e vamos colaborar para que ele volte a funcionar da melhor forma”.
O Museu carece de funcionários: atualmente, conta com 21 efetivos e três temporários para dar conta de um complexo que abrange 78 mil metros quadrados, entre área construída (sendo três prédios de importância histórica) e um parque a céu aberto. No passado, obras de restauração indevidas prejudicaram tanto a parte física dos imóveis quanto algumas das 53 mil peças que integram o acervo. O estopim para o fechamento de uma das construções, a Villa Ferreira Lage, erguida em 1861, foi uma inundação após forte chuva: a estrutura ficou prejudicada, partes do reboco da parede caíram. Já o Prédio Mariano Procópio, onde fica a Galeria de Belas Artes, projetado pelo escultor Rodolfo Bernardelli na década de 1920, apresenta fissuras na estrutura e irregularidades no telhado decorrentes de obras mal feitas antigamente. Ambos foram interditados em 2008.
A maioria dos problemas ainda não foi reparada adequadamente por falta de dinheiro, já que, para complicar ainda mais a situação, as finanças do museu foram congeladas pela Operação João de Barro da Polícia Federal, que investigou no mesmo ano funcionários ligados à prefeitura  por desvio de verbas públicas federais. Sem investimento em manutenção ou restauração, a antiga residência do comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, amigo de D. Pedro II e idealizador da Estrada União Indústria (que ligava Petrópolis à Minas Gerais), permanece com as portas fechadas.
Hoje, o diretor Douglas Fasolatto corre contra o tempo para captar recursos e recuperar o acervo e os prédios – já foram refeitos o piso, o telhado e as instalações elétricas da Villa, por exemplo. “Estamos fazendo também o segundo levantamento da história do acervo, tanto para conhecê-lo melhor, quanto para garantir sua segurança”. Ele conta que, mesmo fechado ao público, o museu está a todo vapor na parte de pesquisa. “Nunca antes se produziu tanto”, anima-se o diretor. Uma parceria firmada com a Escola de Belas Artes da UFJF levou à reserva técnica cinco grupos de estudo. No final do ano, será lançada a primeira edição dos Anais da Fundação Museu Mariano Procópio.
A historiadora da arte Maraliz Christo é a coordenadora de um dos grupos de pesquisa que unem a UFJF e o museu e conta que, apesar do progresso nos últimos anos, ainda há muito o que ser feito. "Apesar do esforço da atual direção, o fato de o museu estar fechado limita muitíssimo o trabalho do pesquisador, pela impossibilidade do contato direto e frequente dos alunos com as peças e sua documentação. Hoje, todo o processo de consulta é lento e restrito, devido às obras em curso nos prédios que abrigam as coleções e à falta de funcionários".
 
Paixão antiga
O crítico de arte e professor da PUC-Rio, Elmer Correia Barbosa, frequenta o museu Mariano Procópio desde que era criança, quando estudava num colégio próximo ao parque. Apaixonado pelo acervo referente às pinturas dos séculos XVIII e XIX, Barbosa lembra algumas preciosidades abrigadas no complexo. “O acervo de pintura do museu é excelente. Lá está, por exemplo, a pintura ‘Tiradentes esquartejado’, do Pedro Américo. Esse quadro é impressionante, porque se faz uma pintura não do ponto de vista de um romantismo típico e piegas, é uma ilustração da parte mais crítica. Talvez seja um dos melhores trabalhos românticos feitos nesse período”.
Ele lembra que outro forte do acervo são pinturas de paisagens do Vale do Paraíba, do percurso das fazendas mineiras do XIX, e também outas partes do país.  “Alfredo Ferreira Lage, filho do Mariano Procópio, era um colecionador de arte. Ele arrematou muita coisa importante do período do Império; seu pai era da intimidade do Imperador”.  Para reforçar essa proximidade entre D. Pedro II e Mariano Procópio, Correia Barbosa lembra um fato que considera interessante: a casa do comendador recebeu a primeira linha telefônica interestadual do Brasil, vinda justamente do palácio de verão da monarquia (atual Museu Imperial de Petrópolis), no final do século XIX. Dada à importância artística, cultural e histórica do museu, o professor lamenta a falta de recursos financeiros.
“O museu tem instalações muito boas, um acervo incrível, um prédio interessantíssimo do ponto de vista arquitetônico. Ele só precisa de investimento. Como é administrado pela prefeitura, não tem os recursos necessários. Cultura custa caro e as prefeituras não dão valor a isso”. E acrescenta: “No Brasil, não se ensina a ver. Crianças não aprendem a ver e, por isso não entendem a arte. A pintura fica sendo bonita ou feia, mas arte não é isso. O aprendizado de ver só é possível nos museus, lá se ensina a apurar os sentidos ”.

Breve histórico
Fundado em junho de 1921, o museu Mariano Procópio ocupou, inicialmente, apenas um prédio, a Villa Ferreira Lage, construída no terreno da chácara de Alfredo Ferreira Lage, filho do comendador Mariano Procópio (1821/1872), político dos tempos do Império. No ano seguinte, o aumento do acervo fez com que um anexo fosse projetado: de autoria de Rodolfo Bernadelli, tratou-se da primeira construção com finalidade de museu erguida no Brasil. Ferreira Lage era colecionador de arte e doou à fundação todo o seu acervo, que conta com esculturas de artistas como Marius, Clodion, José Otávio Correia Lima e Jean Mercié; pinturas dos franceses  Charles Daubgny e Jean Fragonard, do holandês Willem Roelofs e de artistas brasileiros como Pedro Américo e Rodolfo Amoedo. Peças mobiliárias do século XVI ao XIX também foram adquiridas pelo dono da chácara, grande parte oriunda do Palácio de São Cristóvão, antiga residência da família real, cujos pertences foram leiloados após a Proclamação da República.
Por Alice Melo

Fonte:  http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/em-tempo-1














Um comentário: