sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Museu Casa Padre Toledo, em Tiradentes, é restaurado pela UFMG e será reaberto ao público no dia 13

A vida e a obra do Padre Toledo (1731–1803) ainda são cercadas de mistérios. Nascido em Taubaté (SP), com estudos em Lisboa (Portugal) – onde teve acesso aos ideais iluministas –, e com uma trajetória de realizações em fins do século 19, em Tiradentes, o cônego teve importância fundamental para a cultura e para as artes do período. Nos últimos anos, o museu que leva seu nome na cidade do Campo das Vertentes passou por um período complicado, até que, há cinco anos, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) assumiu uma ampla reforma. O resultado do processo chega ao público na semana que vem, quando será reaberto com uma exposição do acervo sobre os universos do religioso e do cotidiano da época.

A reforma do Museu Casa Padre Toledo, que custou cerca de R$ 5 milhões, dinheiro de mecenato e da própria UFMG, recuperou todas as salas do casarão colonial da Rua Padre Toledo, 190, e do Torreão, edifício anexo ao museu. No processo, além da descoberta de pinturas nos forros ainda desconhecidas, foram encontradas pinturas parietais. O investimento também serviu para a criação da nova exposição, recuperação de peças do acervo e para a revitalização de outro casarão ao lado, onde funcionará o Centro de Pesquisa e Experimentações em Sistemas Multimodais. A universidade promete inaugurar ainda uma biblioteca de referência do barroco (no antigo prédio da Câmara) e apoiar a iniciativa do Museu das Sant’Annas da empresária Angela Gutierrez. Todos os espaços constituirão um futuro câmpus cultural a ser implantado em Tiradentes.

“A ideia é que o conjunto possa servir para a produção do conhecimento. Não apenas para se conhecer a história esteticamente”, explica Rodrigo Minelli, um dos responsáveis pela implantação. O pró-reitor adjunto de planejamento da UFMG, Maurício Campomori, vai além: “O interesse é tornar Tiradentes uma referência cultural. Hoje é um polo de eventos. Precisa de uma instituição como a UFMG para prover conteúdos”, salienta ele, que promete dar uma destinação mais acadêmica àqueles edifícios. Pelo menos nessa primeira fase, a trajetória de Padre Toledo permanecerá cercada de mistérios. “Exige uma pesquisa mais aprofundada nos próximos anos”, avisa Minelli. Como os autos da devassa confiscaram os bens do pároco, não existe em exposição nenhuma peça que tenha pertencido ao religioso.

Acervo


A reabertura do Museu Padre Toledo ocorre com uma singela mostra do acervo, se comparado à imponência da restauração da edificação. Talvez, por isso, a opção, nesse momento, foi valorizar o edifício. “O objetivo é resgatar a importância do patrimônio artístico da casa”, conta Isabela Vecci, responsável pela expografia, projeto de exposição. A solução ocorre, em geral, toda vez que se inaugura um museu num prédio imponente e com acervo irregular. “Temos um acervo heterogêneo de 300 peças, constituído a partir de doações. Há coisas boas, e outras nem tanto”, explica Minelli. A mostra evidencia o aspecto.

Não se trata, nem de longe, de uma exposição marcante. O que o visitante verá nas salas é uma tentativa de contextualizar a memória dos usos da edificação a partir de um pequeno acervo. A alternativa foi usar elementos tecnológicos de interação (recurso bastante difundido nesses casos) e criar formas de ocupação dos espaços com expografias de grandes formatos, como no caso de uma instalação composta por uma mesa de espelhos hexagonais em que o público verá projetado o forro de uma das salas ou, em outro momento, onde foi instalado um confortável sofá para que o visitante olhe para cima e veja detalhes das pinturas nos forros.

O que vale a visita ao museu, além da arquitetura, é a tela Batismo de Cristo, atribuída a Manuel da Costa Ataíde (1762–1830), objetos relacionados ao ofício do padre e uma Coleção Braziliana, que pela primeira vez será apresentada fora de Belo Horizonte, formada por 10 aquarelas retratando os primórdios do Rio de Janeiro. Trata-se do mais importante e valioso acervo de obras de arte que a instituição tem, doada pelo jornalista Assis Chateaubriand em 1966. Recentemente, graças ao projeto Memória, acervo e arte, os acervos da instituição foram inventariados, dando origem a exposições, livros e seminários. A mostra em questão é mais um exemplo de desdobramento da iniciativa.

Câmpus Cultural

A UFMG assumiu, há 15 anos, a coordenação da Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade. Em Tiradentes, a instituição tem edificações históricas importantes: Museu Padre Toledo, Centro de Estudos, Câmara (onde será instalada até 2014 uma biblioteca especializada no barroco) e a Cadeia (onde será inaugurado o Museu das Sant’Annas). A intenção é movimentar culturalmente a cidade a partir de acervos relevantes. A biblioteca, por exemplo, deverá ter acervo de 15 mil títulos. Atualmente, tem 5 mil. “Não terá só acervo físico. O objetivo é guardar toda documentação relativa ao período”, conclui Maurício Campomori.

Saiba mais

Padre Toledo

O inconfidente padre Carlos Correia de Toledo e Melo nasceu em Taubaté, em 1731, capitania de São Paulo, de onde no século anterior haviam partido tantas entradas e bandeiras atravessando a Mantiqueira em busca das minas. Foi designado vigário da Matriz de Santo Antônio em 1777, além de ter sido presbítero do hábito de São Pedro. Tinha 59 anos quando foi preso em 1789, quando atravessava a Serra de São José. Foi acusado pelo Acórdão da Alçada de convidar para a conjuração o seu irmão, Luís Vaz de Toledo, sargento-mor da Cavalaria Auxiliar de São João del-Rei, e declarou nos autos da devassa a sua participação como inconfidente. Expatriado para Portugal, permaneceu inicialmente encerrado na Fortaleza de São Julião, até ser transferido para uma prisão eclesiástica em Lisboa, onde morreu em 1803.


Museu Casa Padre Toledo

Reabertura para convidados dia 12, às 17h, na Rua Padre Toledo, 190, Tiradentes. O público poderá conhecer o espaço a partir do dia 13, às 9h. A entrada para a comunidade é gratuita. Haverá cobrança de ingresso para turistas: R$ 10 (inteira). Informações: (32) 3355-1550. 

Fonte: http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_7/2012/12/07/ficha_agitos/id_sessao=7&id_noticia=61225/ficha_agitos.shtml 



























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