O arquiteto chinês Wang Shu venceu o prêmio Pritzker de Arquitectura
2012. Pouco conhecido fora do seu país, Wang Shu mostra, com a sua obra,
que o que se constrói na China "é mais do que a produção em massa da
banalidade", como disse um dos membros do júri.
A atribuição deste prêmio tem que ver com o emergir da China, o que
não deixa de surgir em jeito de crítica porque, quando se olha para a
obra de Wang Shu, percebe-se a diferença que ele marca no contexto
chinês, pautado pela espectacularidade e massificação. A obra de Wang
chega mesmo a ser arcaica, dada a proximidade que o seu trabalho tem com
o do artesão.
O Prêmio Pritzker, fundado em 1979 por Jay A.
Pritzker e pela sua mulher, Cindy, é uma honra anualmente concedida a um
arquiteto vivo cuja obra construída demonstre uma combinação de
talento, visão e comprometimento. O laureado recebe um prémio de 100 mil
dólares e uma medalha de bronze. Este ano, a cerimônia formal do
conhecido "prémio Nobel da Arquitectura" terá lugar no país mais
populoso do mundo, na cidade de Pequim, no dia 25 de maio, e o
galardoado, o arquitecto chinês Wang Shu, vai, por isso, sentir-se bem
em casa.
Mas nada disto é "por acaso". Antes se encaixa na perfeição com o
espírito dos nossos tempos. Quando o júri anunciou a decisão, as
afirmações de Pritzker não podiam ser mais elucidativas: “O facto de um
arquitecto chinês ter sido seleccionado representa um passo significante
para perceber o papel que a China terá no desenvolvimento dos ideais
arquitectónicos. Além disso, durante as últimas décadas, o sucesso da
urbanização chinesa será importante tanto para o país como para o mundo.
Essa urbanização, como a urbanização em todo o mundo, precisa de estar
em sintonia com a cultura e as necessidades locais. As oportunidades sem
precedentes para o planeamento e desenho urbano possibilitadas pela
China deverão estar em harmonia tanto com a sua longa e única tradição
do passado como com as suas (e de todo o mundo!) futuras necessidades
para o desenvolvimento sustentável.”
Arquiteto e Professor, Wang Shu nasceu em 1963, em Urumqi, uma
cidade na região de Xinjiang, a província mais ocidental da China. O sr.
Shu recebeu o seu primeiro diploma em arquitectura em 1985 e apresentou
a sua dissertação de mestrado em 1988, ambos no Nan Nanjing Institute
of Technology.
Em 1997, fundou com a mulher, Lu Wenyu, o Amateur Architecture Studio
em Hangzhou, China. O nome do escritório baseia-se na espontaneidade,
nas capacidades artesanais e em tradições culturais fortemente
reflectidas nas obras deste arquitecto. Wang Shu passou vários anos a
trabalhar em construções de obras (sobretudo na recuperação de casas
antigas) para aprender os seus pressupostos e técnicas mais básicas. Por
isso,o seu processo de criação assenta numa experimentação que busca,
em cada obra, uma combinação única de conhecimento do tradicional, das
táticas de construção experimentais e de pesquisa intensiva injectada
pela sua consciência ecológica. É isto que define a base para os
projetos de arquitetura do estúdio. Wang Shu não é, definitivamente, um
arquitecto do starsystem..
Ao invés de olhar para o Ocidente em busca de inspiração, como muitos
dos seus contemporâneos, Wang Shu encontra-a nas suas raízes e no
contexto da história e culturas chinesas. A obra deste arquiteto, pouco
conhecido além das fronteiras do seu país (aliás, tal como o vencedor
do Pritzker de 2011, o português Eduardo Souto Moura), tem pouco de
espetacular e é, no fundo, um pouco arcaica. O próprio confessa que
gosta mesmo é de trabalhar com artesanato, com liberdade e ritmo à sua
medida, explicou ao “Le Courrier de l’Architecte”. Veja-se que Wang Shu
tem uma relação muito próxima com o trabalho dos artesãos: filho de um
músico e carpinteiro amador e de uma professora, parecia destinado a ser
artista plástico ou escritor. Escolheu a arquitetura. Aproveitando
este mix, Wang Shu consegue transcender o debate em torno do
recente processo de urbanização na China desenvolvendo uma obra
intemporal e perene. Yung Ho Chang, professor de arquitectura no MIT
School of Architecture and Planning, nos EUA, confirma esta ideia: "a
obra de Wang mostra que a arquitectura na China é mais do que a produção
em massa da banalidade que responde ao mercado e de reproduções do
exótico."
O arquiteto chinês justificou o gosto pelo antigo e pela renovação
com palavras que revelam um casamento da arquitetura do passado com a
do futuro: “Eu sei que existia algo antes de mim, os meus edifícios vêm
de algum lado”.
As abordagens de Wang Shu inserem-se plenamente naquele "tipo" que,
ultrapassando a visão redutora do arquiteto enquanto criador das formas
estéticas, superam também o estatuto técnico, agindo de forma reativa
à realidade, invocando para a arquitetura, enquanto área que se situa
entre a resolução técnica e a expressão cultural, uma responsabilidade
especial enquanto ator social. Só desta forma poderá a arquitetura
manter uma flexibilidade e relevância crítica enquanto participante nas
dinâmicas culturais e sociais do mundo.
As suas obras mais conhecidas são a Biblioteca do Colégio Wenzheng, em
Suzhou University (em 2004, a biblioteca recebeu o Prémio de Arquitetura
Arte da China),o Museu de Arte Contemporânea de Ningbo e cinco casas
espalhadas também em Ningbo (que que lhe valeram o Holcim Award para a
categoria da "Construção Sustentável na Ásia-Pacífico"). Na mesma
cidade, completou o Museu de História, em 2008 e, em Hangzhou, fez a
primeira fase do Campus Xingshan da Academia de Arte da China em 2004,
terminando a segunda fase em 2007.
Fonte: http://obviousmag.org/archives/2012/04/o_pritzker_2012_wang_shu.html
Museu de Arte de Ningbo
Biblioteca do Colégio Wenzheng
Ningbo Tengtou Case Pavilion
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