Ao se deliciar com um prato de feijão tropeiro, poucos se perguntam
sobre a origem dessa comida tão saborosa. Será mineira, goiana,
paulista? O nome dá a dica: a receita foi criada pelos tropeiros,
responsáveis por transportar mercadorias no lombo de mulas em várias
regiões do Brasil, desde a descoberta das minas de ouro e pedras
preciosas, no final do século XVII.
Ainda pouco conhecidos pela população, os tropeiros vêm ganhando
reconhecimento e podem virar Patrimônio Imaterial, pelo Iphan, e até
Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. Para isso, será criado
um banco de dados com diversas informações sobre a influência do
tropeirismo, que poderá ser abrigado no Museu do Tropeiro em Ipoema,
Minas Gerais.
A ideia é que ali seja criado um centro de referência e
documentação, aberto para pesquisas sobre o tema. Os estudos ainda estão
no início. E segundo o pesquisador Carlos Solera, coordenador do
projeto, o material poderá estar pronto em 2014. “Estamos chamando
pesquisadores de cada estado influenciado pelo tropeirismo para fazer
inventários, mostrando as influências na alimentação, na linguagem, nas
roupas. Os tropeiros começaram a trazer as mulas da Região Sul em 1727.
Eles faziam uma viagem de cerca de dois anos até o estado de São Paulo,
onde os animais eram comercializados para outros estados. Como viajavam
por todo o país, ajudaram a misturar as culturas, conta Solera.O
tropeirismo vem seduzindo mais pesquisadores desde a realização do
primeiro seminário nacional sobre o tema, no Rio Grande do Sul, em 1992.
No ano passado foi realizado um seminário internacional, e Solera prevê
novos eventos em pelo menos 12 estados a partir de 2013. De qualquer
forma, o Sul continua a concentrar a maioria dos interessados no
assunto. A cidade de Castro, no Paraná, é um bom exemplo. Originalmente
um ponto de parada dos viajantes, desde 1977 ela abriga o Museu do
Tropeiro, primeiro do país. Além de reunir mais de 1.000 peças, entre
objetos de montaria, baús e documentos até do século XIX, o espaço tem
funcionários que auxiliam estudiosos em suas pesquisas. “Falta um
arquivo histórico para juntar todos os documentos. Aqui em Castro, há
coisas como um batizado original de 1762, alguns processos de 1732, sem
contar o que está na Câmara, na Prefeitura e na Casa da Cultura”, diz
Léa Maria Villela, diretora do museu.
Um dos pesquisadores mais assíduos em Castro é Ilton Cesar Martins,
professor da Universidade Estadual do Paraná. “Há muito que se estudar,
como os escravos que prestavam serviços para as tropas. Muitos deles
passavam até a ensinar ofícios, como a alfaiataria. Outro ponto é a
relação desses escravos, dos tropeiros e dos fazendeiros com o roubo de
gado. Uma senhora da região de Castro teve entre 9.000 e 10.000 cabeças
de gado roubadas em meados do século XIX. Descobri outros casos
semelhantes”, revela Martins.
De volta ao mapa, os tropeiros prometem, como é de seu feitio, rodar o país. E, quem sabe, o mundo…
Por Silvana Losekan
Fonte: http://www.defender.org.br/tropeirismo-pode-virar-patrimonio-cultural-da-humanidade-e-ganhar-centro-de-referencia-e-documentacao/
(Foto – Arquivo Museu do Tropeiro de Ipoema)
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