sábado, 13 de outubro de 2012

Tropeirismo pode virar Patrimônio Cultural da Humanidade e ganhar centro de referência e documentação

Ao se deliciar com um prato de feijão tropeiro, poucos se perguntam sobre a origem dessa comida tão saborosa. Será mineira, goiana, paulista? O nome dá a dica: a receita foi criada pelos tropeiros, responsáveis por transportar mercadorias no lombo de mulas em várias regiões do Brasil, desde a descoberta das minas de ouro e pedras preciosas, no final do século XVII.
Ainda pouco conhecidos pela população, os tropeiros vêm ganhando reconhecimento e podem virar Patrimônio Imaterial, pelo Iphan, e até Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco. Para isso, será criado um banco de dados com diversas informações sobre a influência do tropeirismo, que poderá ser abrigado no Museu do Tropeiro em Ipoema, Minas Gerais.
A ideia é que ali seja criado um centro de referência e documentação, aberto para pesquisas sobre o tema. Os estudos ainda estão no início. E segundo o pesquisador Carlos Solera, coordenador do projeto, o material poderá estar pronto em 2014. “Estamos chamando pesquisadores de cada estado influenciado pelo tropeirismo para fazer inventários, mostrando as influências na alimentação, na linguagem, nas roupas. Os tropeiros começaram a trazer as mulas da Região Sul em 1727. Eles faziam uma viagem de cerca de dois anos até o estado de São Paulo, onde os animais eram comercializados para outros estados. Como viajavam por todo o país, ajudaram a misturar as culturas, conta  Solera.O tropeirismo vem seduzindo mais pesquisadores desde a realização do primeiro seminário nacional sobre o tema, no Rio Grande do Sul, em 1992. No ano passado foi realizado um seminário internacional, e Solera prevê novos eventos em pelo menos 12 estados a partir de 2013. De qualquer forma, o Sul continua a concentrar a maioria dos interessados no assunto. A cidade de Castro, no Paraná, é um bom exemplo. Originalmente um ponto de parada dos viajantes, desde 1977 ela abriga o Museu do Tropeiro, primeiro do país. Além de reunir mais de 1.000 peças, entre objetos de montaria, baús e documentos até do século XIX, o espaço tem funcionários que auxiliam estudiosos em suas pesquisas. “Falta um arquivo histórico para juntar todos os documentos. Aqui em Castro, há coisas como um batizado original de 1762, alguns processos de 1732, sem contar o que está na Câmara, na Prefeitura e na Casa da Cultura”, diz Léa Maria Villela, diretora do museu.
Um dos pesquisadores mais assíduos em Castro é Ilton Cesar Martins, professor da Universidade Estadual do Paraná. “Há muito que se estudar, como os escravos que prestavam serviços para as tropas. Muitos deles passavam até a ensinar ofícios, como a alfaiataria. Outro ponto é a relação desses escravos, dos tropeiros e dos fazendeiros com o roubo de gado. Uma senhora da região de Castro teve entre 9.000 e 10.000 cabeças de gado roubadas em meados do século XIX. Descobri outros casos semelhantes”, revela Martins.
De volta ao mapa, os tropeiros prometem, como é de seu feitio, rodar o país. E, quem sabe, o mundo…
Por Silvana Losekan

Fonte: http://www.defender.org.br/tropeirismo-pode-virar-patrimonio-cultural-da-humanidade-e-ganhar-centro-de-referencia-e-documentacao/















(Foto – Arquivo Museu do Tropeiro de Ipoema)

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