quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Casa Bandeirista é restaurada em São Paulo

Pesquisando na Internet sobre predios tombados, encontrei esta matéria do site PINIweb, de fevereiro deste ano, a qual reproduzo abaixo:

No número nove da movimentada rua Iguatemi, Itaim Bibi, zona Oeste da capital paulista, dois edifícios de diferentes épocas convivem pacificamente na área de 19 mil m² que restou do antigo Sítio Itahim. Um resplandecente edifício contemporâneo com vistosas fachadas de vidro espelhado contrasta, mas não agride a singela construção do século 18, com sua estrutura de taipa de pilão pintada de branco. "Na casa, o visitante esquece a vida agitada da cidade ao seu redor. É a rotina rural do período colonial ao lado da agilidade plena e total do terceiro milênio. Em um só espaço, as duas construções convivem pacificamente, cada qual em seu tempo, com uma diferença de quase três séculos", comenta Helena Saia, arquiteta e historiadora responsável pelo projeto de restauração da Casa Bandeirista do Itaim. 
Um dos seis exemplares remanescentes do Ciclo Bandeirista na capital (os outros estão em Santana (duas), Tatuapé, Butantã e Caxinguí), a sede do Sítio Itahim foi tombada pelo Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico em 1982, e já estava em ruínas quando os trabalhos de recuperação foram iniciados em 2007. Suas características são as mesmas das casas de fazenda que ocupavam o planalto paulista na época: planta simples com distribuição simétrica, construção em taipa de pilão, com alpendre central separando o quarto de hóspedes da capela (com um autêntico e raro altar de madeira do século 18); salão central e quatro ambientes laterais, dois de cada lado, com seus respectivos jiraus. Cozinha e despensa foram acrescentadas no século 19.
No início do século passado o imóvel passou a ser ocupado por uma clínica psiquiátrica, até que em 1970 foi adquirido pelo investidor Naji Nahas, que utilizou o local como estacionamento enquanto definia o tipo de empreendimento a ser feito.
Abandonada e destelhada, sob ação das chuvas, suas grossas paredes de taipa de pilão começaram a entrar em colapso. O Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado, a pedido dos moradores do bairro, iniciou o estudo do tombamento do sítio, o que ocorreu em 1982. A resolução do tombamento determinou que a preservação da casa e de 300 m do seu entorno seria da responsabilidade do proprietário, e que a incorporação do novo empreendimento, o recém-construído Brookfield Malzoni, deveria seguir a mesma proposta adotada para a Casa das Rosas, na avenida Paulista, com a construção contemporânea compartilhando o terreno com o antigo imóvel. Em 1997, o arquiteto Júlio Neves, autor do primeiro projeto do novo empreendimento, convidou a arquiteta Helena Saia para o trabalho de restauro/reconstrução da casa bandeirista do Itaim. "Foram 14 anos entre pesquisas, estudos, projeto e execução, período em que enfrentamos não só grandes problemas técnicos, mas também jurídicos, com o embargo da obra durante quase dois anos, pelo Ministério Público Federal, sob alegação de que se estava "destruindo um sítio arqueológico".  
Em meados de 2007, foi iniciada a remoção da vegetação que crescera entre as ruínas, cujas raízes desagregavam os maciços das paredes de taipa. "Depois da retirada do entulho acumulado ao longo dos anos, a estrutura remanescente foi suficiente para informar muita coisa sobre a casa e nortear a restauração", conta o arquiteto Alberto Arruda, especialista em restauro, contratado para a obra. Uma gigantesca cobertura de telhas metálicas foi instalada sobre a estrutura para protegê-la das chuvas e da queda de peças e objetos durante a construção do edifício próximo.  
uando as obras foram embargadas, no início de 2009, o restauro já estava adiantado. Tinham sido concluídos os trabalhos de recomposição ou complementação estrutural da taipa de pilão com trechos de solo-cimento apiloado (obedecendo ao sistema de entaipamento) e reforços de concreto celular e concreto armado em alguns pontos, e colocados os requadros e esquadrias de portas e janelas. Com as paredes respaldadas, foi iniciada a execução dos frechais de concreto e identificadas as arestas da cobertura que permitiram a definição do grau de caimento das águas. O momento da paralisação, em que estava sendo feita a  estabilização das cortinas de contenção necessárias para a escavação dos subsolos do edifício vizinho, foi crucial para a obra. Com os serviços parados e a obra exposta às intempéries, houve a deformação das placas de concreto e a consequente movimentação do solo onde a casa tombada está implantada. Profundamente atingidas pelo recalque do terreno, as paredes restauradas do imóvel sofreram fraturas verticais e horizontais, e o solo, rachaduras que atingiram profundidades superiores a 12 m. De acordo com o arquiteto José Saia Neto, que acompanhou toda a execução do trabalho, a restauração do terreno é inédita na história do restauro paulista. Grandes trincas separavam blocos de solo que ficaram instáveis e, com o chão encharcado pela chuva, funcionavam como canais subterrâneos que poderiam causar o colapso da área. A empresa Falcão Bauer foi então chamada pelos incorporadores, a pedido de Helena Saia, para monitorar as estruturas.
Na retomada das obras, em 2010, a primeira providência foi solucionar o problema das trincas. O arquiteto Alberto Arruda explica que, nesse processo, foi utilizada uma argamassa seca de areia e cimento: a mistura descia até o final da trinca, preenchendo todos os espaços, e só então era colocada a água, que fazia a mistura reagir e endurecer. Na fase posterior, foi feita a desmontagem das paredes rachadas, realinhados os batentes danificados pelo rebaixamento do solo, refeitos os frechais em concreto (na mistura da massa, ao invés de brita, foi usada argila expandida, por ser mais leve), executados reforços de concreto junto ao alicerce, tanto das paredes internas quanto das externas, e finalmente colocado o telhado. As telhas obedeceram ao modelo e dimensão das originais da casa. Na massa de revestimento de pisos e paredes foi usado polipropileno, de uso comum em construções na Europa para evitar trincas em fachadas de concreto sob efeito de bruscas alterações de temperatura. 

Fonte:  http://www.piniweb.com.br/construcao/arquitetura/casa-bandeirista-e-restaurada-em-sao-paulo-249932-1.asp













Tombada em 1982 pelo Condephaat , a sede do sítio Itahim estava em ruínas quando os trabalhos de recuperação foram iniciados em 2007

 











Vista da fachada. Construída em taipa de pilão, as características simples da casa são as mesmas que ocupavam o planalto paulista no século 18


















Para não interferir na vista da casa tombada pelo patrimônio, o edifício Brookfield Malzoni foi construído com vão de 44 m 

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