quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Na mão leve: roubos históricos

Boa parte das principais coleções de arqueologia do mundo foi pilhada quando Inglaterra, França e Alemanha dominavam o mundo

por Texto Eduardo Szklarz

Agosto de 2008

 

Um magnífico altar de mármore dedicado a Zeus, erigido no século 2 a.C. em Pérgamo (atual Bergama, na Turquia), surpreende logo na entrada quem visita o Pergamon. A enorme estrutura foi escavada no fim do século 19 pelo arqueólogo Carl Humann, enviada aos pedaços para a Alemanha e reconstruída no museu de Berlim com absoluta precisão, como se aquele fosse o seu lugar de origem.
Outros museus europeus não ficam atrás. No Louvre, em Paris, e no Museu Britânico, em Londres, as coleções antigas são tão sensacionais que temos a impressão de estar no Egito dos faraós ou na Acrópole de Atenas. Tudo isso seria mesmo fantástico, não fosse por um pequeno detalhe: boa parte desse acervo foi parar lá na base da pilhagem. Inglaterra, França e Alemanha, as potências coloniais dos séculos 19 e 20, aproveitaram seu poder de fogo para saquear o patrimônio arqueológico das zonas ocupadas e rechear o acervo de suas instituições culturais.

PILHAGENS E ESPÓLIOS
O general francês Napoleão Bonaparte era um mestre da pilhagem. Tanto que serviu de exemplo para os saqueadores nazistas no século 20. Em 1798, quando marchou com suas tropas pelo Egito, Napoleão levou um grupo de eruditos para estudar os tesouros escondidos no deserto. “Mais de 150 astrônomos, botânicos, engenheiros e artistas acompanharam as tropas”, escreve a americana Nina Burleigh no livro Mirage: Napoleon’s Scientists and the Unveiling of Egypt (“Miragem: Cientistas de Napoleão e a Revelação do Egito”, sem tradução para o português). Entre os cientistas de Napoleão estava Dominique Vivant, futuro diretor do Louvre.
“Hoje, se o visitante gastar apenas um minuto em cada peça da seção de arte egípcia do Louvre, vai precisar de 10 dias para ver tudo”, diz o egiptólogo francês Claude Rilly. Claro que nem todo o acervo é fruto de pilhagem. Boa parte foi recebida em doação ou comprada. Em sua página da internet, o Louvre informa que a criação de seu departamento egípcio não foi conseqüência direta da expedição napoleônica. “Os ingleses confiscaram, como espólio de guerra, as antiguidades coletadas por acadêmicos durante a viagem.”
De fato, com a vitória da Inglaterra sobre a França no início do século 19, várias obras pilhadas pelos franceses foram parar no Museu Britânico. Uma delas é a Pedra de Roseta, um bloco de granito negro de 760 quilos com um texto gravado em 3 tipos de escrita: egípcio demótico, grego clássico e hieroglifos egípcios (leia mais na reportagem da pág. 16). Como o grego era bem conhecido, a pedra serviu como uma chave para decifrar os hieroglifos. Mas trouxe também um problema: quanto maior o conhecimento ocidental sobre as civilizações antigas, maior se tornou a caça aos seus artefatos.
Que o diga lorde Elgin, embaixador britânico em Constantinopla. Ele mandou remover centenas de relíquias de Atenas e despachou-as de navio para Londres. O conjunto englobava quase metade do friso original do Parthenon, 15 das 92 métopas (painéis esculpidos) e 17 figuras em tamanho natural (os Mármores de Elgin). Como a Grécia era dominada pelos turcos otomanos, Elgin teria obtido autorização do sultão para levar algumas esculturas, mas a iniciativa até hoje gera polêmica.

MÉTODOS RUDIMENTARES
Quem também engordou o acervo do Museu Britânico foi o italiano Giovanni Belzoni. Em 1805, o governo do Reino Unido enviou-o ao Cairo para remover o gigantesco busto do faraó Ramsés 2º. O colosso de quase 3 metros e 7 toneladas acabou surrupiado do Templo de Ramesseum, em Tebas, e levado para a Inglaterra.
Em 1817, Belzoni encontrou no Templo de Abu Simbel a estátua de Paser, que, no século 13 a.C., foi o vice-rei da região de Núbia. Destino? Londres, é claro. No mesmo ano, o aventureiro visitou o Vale dos Reis e encontrou a tumba de Seti 1º (veja o infográfico das págs. 28 e 29). Não deu outra: em 1821, os tesouros dessa e de outras 7 tumbas eram exibidos numa galeria da capital britânica.

Segue texto no link: http://super.abril.com.br/historia/mao-leve-roubos-historicos-447720.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super 













O altar de Zeus em Pérgamo - Este altar grego do século II a.C., com 113 metros de frisos, foi tirado de Bergama (a antiga Pérgamo), na Turquia, pelo alemão Carl Humann, entre 1878 e 1886. Está em Berlim desde 1910 - Fonte: Revista Época - 2009

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