A primeira exposição da federação alemã de ofícios Deutscher
Werkbund abriu suas portas em 1914. Hoje, ela é considerada um marco da
história da arquitetura, pois suas utopias construídas podiam ser
visitadas.
Casa da Áustria, na exposição do Deutscher Werkbund em Colônia.
Com salvas de tiros, milhares de pombos e uma saudação ao imperador, a
primeira exposição do Deutscher Werkbund (Federação Alemã de Ofícios)
abriu suas portas em 16 de maio de 1914, em Colônia, no oeste da
Alemanha.
Arquitetos, artistas, industriais e operários eram membros da
federação cujo objetivo não era somente criar edifícios e utensílios de
alta qualidade, mas também dar uma nova forma à vida cotidiana. Os
preparativos para a exposição duraram dois anos.
A mostra em Colônia foi a primeira exposição conjunta, na qual
arquitetos como Walter Gropius, Peter Behrens, Hermann Muthesius e Henry
van de Velde quiseram expressar o alvorecer do modernismo. A visão do
Werkbund era empregar a “máquina como auxílio para alcançar qualidade”,
como formulou o arquiteto belga Van de Velde.
A ideia é que a união entre arte e indústria reformaria todas as
esferas da vida. A máquina não deveria mais só produzir mercadorias
baratas, mas também produtos de alta qualidade. O design e o artesanato
artístico eram os novos recursos para se fazer do “made in Germany” um
selo mundial de qualidade.
Fusão entre arte e indústria
Cartaz da exposição de 1914 desenhado por Peter Behrens.
Na época, o Império Alemão padecia com a sensação de não ter
importância no mundo, por não possuir colônias como as demais potências
europeias. O novo design e a Nova Construção vinham para compensar esse déficit.
Qualidade era um princípio orientador central do Werkbund. Para os
membros do movimento, os autocomplacentes floreados da Art Nouveau eram
um horror, por não ter função e não servir para nada, sendo meramente
decorativos. Mas também não faltaram críticas do Werkbund aos produtos
inferiores e mal executados da indústria da época.
A exposição em Colônia ofereceu à federação a oportunidade de, pela
primeira vez, mostrar as inovações ao público. Um apoiador importante
era Konrad Adenauer, que de 1949 a 1963 seria chanceler federal da
Alemanha Ocidental.
Da almofada ao urbanismo
Pavilhão de vidro de Bruno Taut mostrou que vidro é estável.
Em Colônia, na margem direita do Rio Reno, ergueram-se por volta de
80 edifícios. Como formulou certa vez Hermann Muthesius, um dos
principais iniciadores do movimento: da almofada ao urbanismo, todas as
formas do novo design deveriam se apresentar com um brilho novo. No
bairro de Deutz construiu-se um salão de festas projetado pelo arquiteto
Peter Behrens, além de restaurantes e cafés.
Para a exposição, o futuro diretor da Bauhaus Walter Gropius
construiu uma fábrica-modelo, com fachada em panos de vidro leve e
transparente. No entanto, nada se produzia lá: a fábrica era apenas um
modelo do uso inovador de vidro e ferro, e da separação entre a área de
escritórios e o pavilhão de máquinas – entre o trabalho mental e o
manual.
Carl Rehorst, responsável pelo setor de obras públicas de Colônia em
1914, mostrou-se entusiasmado com o projeto de Gropius: os visitantes
deviam ver “como a máquina influencia o resultado formal, como
condiciona a forma e cada vez encontra mais espaço na menor das
oficinas, para poupar a onerosa mão de obra humana”.
Nova Construção, novo estilo
Três edifícios permanecem até hoje particularmente na memória, além
da fábrica-modelo de Gropius. Um deles é o pavilhão de vidro de Bruno
Taut, uma construção arredondada que lembrava uma pinha de cristal. A
novidade estava no uso do vidro como material portante. O arquiteto, que
trabalhava em estreita colaboração com a indústria vidreira, queria
provar que o vidro também é estável.
A terceira das construções mais importantes do movimento
arquitetônico foi o teatro do belga Henry van de Velde. Já antes da
exposição, o projeto foi motivo de discórdia: ele não agradava a
Muthesius, o presidente da federação de ofícios, que teria preferido um
cinema.
Van de Velde recebeu apoio não somente de Gropius e Taut, mas também
do industrial Karl-Ernst Osthaus, da cidade de Hagen, um patrono
entusiástico do Werkbund. Ele e os demais reconheceram quão visionário
era o projeto de Van de Velde, que previa a separação entre a plateia e a
caixa de palco.
Briga lendária na Werbund
Construída em 1911 por Walter Gropius, Fábrica Fagus em Alfeld serviu de modelo para prédio na exposição em Colônia.
Na reunião por ocasião da abertura da mostra do Werkbund, houve um
debate histórico entre Muthesius e Van de Velde. O tema foi fabricação
em série versus produção individual. O arquiteto belga temia que, devido
à produção em série, os artistas perdessem sua liberdade individual e
que subordinassem excessivamente à máquina as suas aptidões criativas.
A briga durou vários dias, sem que jamais se chegasse a uma solução: a
Primeira Guerra Mundial pôs um fim abrupto à exposição da federação.
Nada restou da mostra, todos os vestígios foram apagados da paisagem
urbana de Colônia.
Agora, cem anos depois, o Deutscher Werkbund do estado da Renânia do
Norte-Vestfália lançou uma reedição do catálogo da exposição de 1914 –
para que os méritos daqueles visionários não caiam no esquecimento. Autoria: Sabine Oelze (ca) – Edição: Augusto Valente
Fonte: DW.DE
Fonte da Pesquisa: http://defender.org.br/noticias/internacional/alemanha-ha-cem-anos-era-aberta-primeira-exposicao-de-arquitetura-moderna/
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