Parceria entre universidade e museus no Paraná busca cuidar do passado de jesuítas do século XVII e do legado dos índios guairenhos
Déborah Araujo
1/5/2014
Entre 1610 e 1628, foram construídas 15 missões jesuíticas na antiga
Província del Guairá, hoje norte do estado do Paraná, com apoio da Coroa
espanhola. O objetivo era apaziguar os conflitos gerados pela
resistência guarani à ocupação europeia na região. No entanto, com as
invasões de portugueses paulistas para a captura de indígenas
guairenhos, as missões – constituídas de aldeamentos com numerosa
população que convivia e era catequizada pelos jesuítas – acabaram sendo
destruídas ou foram abandonadas até 1631. Uma parceria formada
recentemente por pesquisadores e alunos de história da Universidade
Estadual de Londrina (UEL), o Museu Histórico de Londrina e o Museu
Paranaense busca resgatar essas construções, que correm o risco de
desaparecer. “Foram encontradas peças servindo como vasos domésticos,
peças danificadas pelo arado no campo, entre outras situações”, comenta
Regina Célia Aleixo, professora da UEL.
Além disso, o projeto também busca preservar o legado dos indígenas
guairenhos. Segundo Aleixo, com o avanço da colonização no norte do
Paraná, a partir do século XIX, “os indígenas foram alojados em espaços
cada vez menores, até serem criados aldeamentos, como São Jerônimo e São
Pedro de Alcântara”. “No século XX as terras indígenas sofreram outras
subtrações”, ressalta a pesquisadora. Parte do legado pode ser
encontrada na exposição itinerante “Povos indígenas no Norte do Paraná”,
com registros de pesquisadores e viajantes desde o século XIX e objetos
de valor arqueológico, iniciada no Museu Histórico de Londrina, em
2013.
Outros dados sobre a ocupação espanhola no Paraná, reunidos por
pesquisadores desde 1910, encontram-se no Museu Paranaense. “Existe um
rico acervo documental, inclusive imagético, e de cultura material, como
cerâmica, metais, entre outros”, acrescenta Cláudia Parellada,
pesquisadora responsável pelo setor de Arquivologia do Museu Paranaense.
Segundo Cláudia, os sítios arqueológicos e históricos das missões são
fundamentais para a compreensão do processo de colonização da América do
Sul, “e para resgatar provas dos conflitos e das alianças entre os
povos indígenas aqui existentes e os conquistadores europeus”. Para a
arqueóloga, o encontro desses povos gerou um grande choque de culturas,
transformações e intercâmbios, inclusive de alimentos, que hoje estão
“registrados na cultura material e nas técnicas construtivas das missões
jesuíticas guairenhas do século XVII”. “A proteção e a divulgação delas
permite uma reflexão ampla do que aconteceu no passado, e formas
diferentes de se planejar um futuro, no qual a diversidade e a
tolerância permitam somar experiências e evitar conflitos sangrentos com
extermínio de populações”, completa a pesquisadora.
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/missoes-bem-guardadas
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