sexta-feira, 23 de maio de 2014

Missões bem guardadas

Parceria entre universidade e museus no Paraná busca cuidar do passado de jesuítas do século XVII e do legado dos índios guairenhos

Déborah Araujo
1/5/2014

Entre 1610 e 1628, foram construídas 15 missões jesuíticas na antiga Província del Guairá, hoje norte do estado do Paraná, com apoio da Coroa espanhola. O objetivo era apaziguar os conflitos gerados pela resistência guarani à ocupação europeia na região. No entanto, com as invasões de portugueses paulistas para a captura de indígenas guairenhos, as missões – constituídas de aldeamentos com numerosa população que convivia e era catequizada pelos jesuítas – acabaram sendo destruídas ou foram abandonadas até 1631. Uma parceria formada recentemente por pesquisadores e alunos de história da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o Museu Histórico de Londrina e o Museu Paranaense busca resgatar essas construções, que correm o risco de desaparecer. “Foram encontradas peças servindo como vasos domésticos, peças danificadas pelo arado no campo, entre outras situações”, comenta Regina Célia Aleixo, professora da UEL.
Além disso, o projeto também busca preservar o legado dos indígenas guairenhos. Segundo Aleixo, com o avanço da colonização no norte do Paraná, a partir do século XIX, “os indígenas foram alojados em espaços cada vez menores, até serem criados aldeamentos, como São Jerônimo e São Pedro de Alcântara”. “No século XX as terras indígenas sofreram outras subtrações”, ressalta a pesquisadora. Parte do legado pode ser encontrada na exposição itinerante “Povos indígenas no Norte do Paraná”, com registros de pesquisadores e viajantes desde o século XIX e objetos de valor arqueológico, iniciada no Museu Histórico de Londrina, em 2013.
Outros dados sobre a ocupação espanhola no Paraná, reunidos por pesquisadores desde 1910, encontram-se no Museu Paranaense. “Existe um rico acervo documental, inclusive imagético, e de cultura material, como cerâmica, metais, entre outros”, acrescenta Cláudia Parellada, pesquisadora responsável pelo setor de Arquivologia do Museu Paranaense.
Segundo Cláudia, os sítios arqueológicos e históricos das missões são fundamentais para a compreensão do processo de colonização da América do Sul, “e para resgatar provas dos conflitos e das alianças entre os povos indígenas aqui existentes e os conquistadores europeus”. Para a arqueóloga, o encontro desses povos gerou um grande choque de culturas, transformações e intercâmbios, inclusive de alimentos, que hoje estão “registrados na cultura material e nas técnicas construtivas das missões jesuíticas guairenhas do século XVII”. “A proteção e a divulgação delas permite uma reflexão ampla do que aconteceu no passado, e formas diferentes de se planejar um futuro, no qual a diversidade e a tolerância permitam somar experiências e evitar conflitos sangrentos com extermínio de populações”, completa a pesquisadora.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/missoes-bem-guardadas 




Nenhum comentário:

Postar um comentário