terça-feira, 20 de maio de 2014

Cachoeira do Sul (RS) – Paço Municipal começa a ser recuperado

O 3º Batalhão de Engenharia de Combate iniciou ontem o trabalho de escoramento da estrutura e do entrepiso de madeira do antigo prédio do Paço Municipal. Comandada pelo sargento Vanderlei Rauber, uma equipe de sete soldados, um cabo, um sargento e um capitão fará a remoção e recuperação do telhado, o primeiro passo do restauro do prédio histórico da Prefeitura.
Rauber prefere não prever o tempo que levará para o prédio estar totalmente recuperado, pois primeiramente deverá ocorrer a retirada das madeiras mais podres a fim de que possa ser feita uma avaliação do que será necessário para as próximas etapas. Hoje começam a chegar as madeiras e compensados para o escoramento. Um guindaste do Exército fará a remoção das telhas, que serão reaproveitadas na nova estrutura que será feita no telhado.
O trabalho foi acompanhado pelo grupo de cachoeirenses preocupados com a preservação do patrimônio histórico, o Movimento pela Restauração do Paço Municipal, liderado pela arquiteta Elizabeth Thomsen e que conta ainda com a experiência de outros profissionais, entre eles o arquiteto e engenheiro de segurança do trabalho Osni Schroeder. A preocupação de Osni, repassada aos militares, é sobre os cuidados que deverão ser tomados durante a obra. “Estamos tratando de um prédio antigo e a estrutura deve permanecer a original”, alertou.

Pau a Pique - Algumas paredes do Paço Municipal são feitas com um sistema de ripa de coqueiro trançada e barro, forma como eram feitas as estruturas no ano de sua inauguração, em 1864. Segundo Osni, estas estruturas não podem ser danificadas, pois são elas que contam a história do prédio. Também serão recuperadas as janelas e portas, tendo a preocupação de manter o máximo da sua estrutura original.

Uma aventura iniciada em 1864
Em 1864, Cachoeira do Sul já recebia os imigrantes alemães, o serviço de correios estava organizado e o município tinha o foro de cidade. Foi neste ano, em dia e mês que não ficaram registrados na história, que os cachoeirenses se reuniram para festejar a conclusão da obra da Casa de Câmara, Júri e Cadeia. Conhecido atualmente como Paço Municipal, o prédio – que em 2014 completa 150 anos – é um dos 14 imóveis tombados como patrimônio histórico de Cachoeira do Sul. E é neste ano que começa também a obra que deve restaurar o prédio, que está fechado há cerca de sete anos por não ter mais condições de uso.
O prédio, em estilo colonial português e com características neoclássicas, começou a ser erguido em 1861. Apesar da obra ser concluída em 1864, conforme mostra a placa bem no topo do casarão, somente em 5 de agosto de 1865 ele foi entregue oficialmente com o nome de Casa de Câmara, Júri, Cadeia e dependências para o juiz de direito.
Por sugestão do imperador dom Pedro II durante sua passagem pela cidade, o sobrado da Prefeitura serviu inicialmente como hospital militar, conforme consta no relato de guerra do genro de Pedro II, o conde D’Eu. Ele servia para cuidar dos doentes vindos principalmente da Guerra do Paraguai. Segundo ata da Câmara do município, o hospital foi desativado em janeiro de 1866.

Civil e Religioso - Antes mesmo da Casa de Câmara e Cadeia ser construída onde hoje é a Praça Balthazar de Bem, já existia no local a Igreja Nossa Senhora da Conceição, datada de 1779, hoje catedral. Assim, pela tradição portuguesa, ali estava a praça religiosa. A praça civil era onde está a Praça José Bonifácio, pois ali foi construído o pelourinho (uma coluna em praça pública onde eram feitas as cerimônias e punições de crimes). Pela lógica, a Casa de Câmara, Júri e Cadeia deveria ser próxima à praça civil, e não junto à religiosa. Mas não foi isso que aconteceu em Cachoeira.
Na época, o terreno encontrado para comprar e fazer a obra foi justamente junto à praça religiosa e um dos proprietários era Ferminiano Pereira Soares, que foi também os construtor e responsável pela primeira planta da obra. Ferminiano foi o construtor também do primeiro teatro de Cachoeira, erguido em 1830, e dos pilares onde seria a Ponte do Jacuí, na localidade de Jacuí, divisa entre Cachoeira e Restinga Seca.

Queima-roupa
Arquiteta Elizabeth, afinal, como começou o trabalho deste grupo e qual o motivo?
“Nosso trabalho começou após as chuvas de setembro de 2012, quando o Grupo de Recuperação da Ponte de Pedra, inconformado com o abandono e a degradação progressiva do Paço Municipal, resolveu fazer um abaixo-assinado solicitando a sua restauração. Quando entregamos ao prefeito recém-eleito Neiron Viegas as 1.248 assinaturas de cidadãos cachoeirenses, ele afirmou que esta já era uma prioridade do seu governo e solicitou a nossa ajuda para atingir este objetivo. Desde então, o Movimento pela Restauração do Paço Municipal está trabalhando voluntariamente em busca de soluções efetivamente realizáveis dentro da nossa realidade econômica”.

Saiba mais- Depois de 20 meses de trabalho, tem início a obra de recuperação da Casa de Câmara, Júri e Cadeia, objetivo do Movimento pela Restauração do Paço Municipal. A obra começou ontem.
- O objetivo é restaurar o prédio, preservar suas características arquitetônicas e torná-lo novamente útil à comunidade. Foram 60 reuniões, centenas de registros fotográficos, pesquisas, treinamento para o trabalho em altura patrocinado pela Screw e trabalho de mais de 30 pessoas, entre voluntários do movimento e soldados do 3º Batalhão, que será o responsável pelo escoramento e pela troca do telhado.
- Uma das etapas mais difíceis foi transferir os arquivos do depósito construído sob o telhado da Rua Gabriel Leon. O trabalho feito ainda em 2013 contou com um guindaste da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e o esforço das arquivistas e funcionários das secretarias de Administração, Obras e Meio Ambiente.
- Em tempo recorde, foi elaborado o projeto para buscar financiamento do Badesul. O projeto realizado pelo arquiteto Júlio César de Campos Ramos, com o apoio dos arquitetos, engenheiro, estagiários, historiadores e colaboradores do movimento, que já haviam adiantado as pesquisas, os levantamentos fotográficos e a análise das patologias, foi montado em apenas 45 dias. Por enquanto, o projeto segue em análise. Por Patrícia Miranda



 
Foto panorâmica da Praça Balthazar de Bem com o Paço Municipal, Château d’Eau e Igreja Matriz.

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