domingo, 7 de abril de 2013

Fora da linha

Criada em 1854 pelo Barão de Mauá, primeira ferrovia do Brasil quase desapareceu

Mauro de Bias
Caminhando pelo distrito de Piabetá, em Magé, na Baixada Fluminense, ela pode passar despercebida, mas sua importância não é pequena. Soterrada por asfalto, canteiros e ocupações irregulares, jaz a primeira ferrovia construída no Brasil, a Estrada de Ferro Barão de Mauá. Tombada pelo patrimônio histórico, a linha de 14 quilômetros, que vai de Guia de Pacobaíba a Raiz da Serra, está em grande parte tão danificada que já desapareceu.
Para reativar a linha, foi formado um grupo de trabalho que deve contratar nos próximos meses um levantamento completo do estado atual do patrimônio. Mas os desafios são muitos, conforme explica Antonio Pastori, representante da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF) no grupo. “Magé tem dívidas com a União e o Iphan não tem verba para bancar o projeto”, comenta.
As soluções estudadas envolvem a inclusão do projeto na Lei Rouanet, de incentivo à cultura, e a criação de uma parceria público-privada com algum investidor. “Mas a lei está passando por uma revisão e, enquanto isso não se resolve, não podemos fazer nada com ela”, lamenta Pastori.
Cristina Lodi, superintendente do Iphan-RJ, ressalta que os custos são altos e a restauração, incerta. “Vamos contratar um estudo para saber exatamente o estado do patrimônio. Tudo vai depender do que a gente encontrar”, diz a dirigente, que vê na remoção de famílias o maior desafio.
No entanto, Cristina acredita que o primeiro passo já foi dado, a criação do grupo de trabalho. “Sem esse esforço de várias entidades, não iríamos conseguir nada”, afirma. Participam das reuniões o Iphan-RJ, o Iphan nacional, diversos secretários municipais de Magé, a AFPF e o governo do estado. Uma vez iniciado, a previsão é de que o levantamento do patrimônio leve 14 meses.
Segundo Carlos Gabriel Guimarães, professor de história da UFF, a ferrovia representa a riqueza histórica da Baixada Fluminense e a economia movimentada do Brasil no século XIX. Criada em 1854, a linha escoava a produção de café do Vale do Paraíba ao porto do Rio de Janeiro, com uma conexão por navio entre Magé e a capital. No entanto, com a concorrência da Estrada de Ferro D. Pedro II, que ligou Barra do Piraí ao porto em 1864, a linha logo entrou em decadência.
Guimarães defende a recuperação do patrimônio. “A linha deveria ser modernizada. Sem dúvida, ela é importante para a memória do país. Não só a ferroviária, mas também o que foi o século XIX. O Brasil foi um império importante, teve seu papel no cenário mundial”, conclui.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/fora-da-linha 


















Região da E.F. Mauá, já na época da Estrada de Ferro Leopoldina, com a Serra dos Órgãos ao fundo. Foto da Coleção de Alfredo Ferreira Rodrigues, de Pelotas-RS.

 















Mais uma foto da região de Guia de Pacobaíba entre meados da década de 70 e início da década de 80. Podemos ver na foto alguns metros de trilhos, uma locomotiva como monumento, e a casa do agente, um sinaleiro antigo, uma caixa d'água e a Estação razoavelmente conservados até então. Com o tempo, a situação lamentavelmente só piorou. Foto publicada no Livro Lembranças do Trem de Ferro, de Pietro Maria Bardi.

Crédito das imagens: http://www.anpf.com.br/histnostrilhos/historianostrilhos20_abril2004.htm 

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