Resgatar as referências históricas de Manaus por meio da arte. É o
que pretende fazer a Cia. de Idéias por meio do projeto “Lugares que o
dia não me deixa ver”, que vai promover ao longo do mês de setembro uma
série de intervenções artísticas em frente a construções históricas em
situação de abandono ou que passam “batidas” na correria do dia a dia.
Contemplada com o prêmio Artes da Rua da Funarte (Fundação Nacional
de Artes), que destinou R$ 40 mil à concretização do projeto, a
iniciativa vai levar espetáculos de artes integradas ao entorno do
Cabaré Chinelo, no Centro antigo, do complexo da Booth Line, na zona
portuária, do Relógio Municipal, na Praça da Matriz, e do prédio
abandonado na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Leonardo Malcher.
Segundo o diretor da Cia. de Idéias, João Fernandes, serão realizadas
atividades teatrais, com encenação do espetáculo “O auto do Rei Leal”,
além de performances audiovisuais e de dança. Cerca de 40 artistas de
diversos grupos estão envolvidos. Após as apresentações, que acontecerão
sempre às segundas-feiras de setembro, às 18h, as construções receberão
iluminação especial até meia-noite. “A ideia é que mesmo as pessoas que
não saibam do projeto percebam que esses lugares têm vida”, afirmou
Fernandes.
Arte e memória
“Quando idealizamos o projeto, nós queríamos valorizar os cenários de
fundo. Aí pensamos em levar as apresentações para frente dessas
fachadas que têm uma história na cidade. Muitas estão à espera de
reforma, outras abandonadas, mas nós temos a consciência de que a
população só vai atentar a essa realidade quando houver algo que chame a
atenção dela”, resumiu o diretor da Cia. de Idéias, que completa cinco
anos de atuação este ano.
Segundo Fernandes, as intervenções serão um ato ao mesmo tempo
artístico e político, uma maneira de ocupar positivamente esses locais,
que em alguns casos acabam se tornando pontos de consumo de drogas. “É
uma iniciativa nossa enquanto cidadãos e artistas, já que a Cia. não
pode fazer as reformas por ela mesma. Resgatando as referências
históricas e levando esse conhecimento à população, ela vai ter mais
chances de cobrar seus direitos. Hoje são quatro prédios, mas amanhã
podem ser 20”, completou.
A programação completa do projeto “Lugares que o dia não me deixa
ver” será fechada ao longo dessa semana, mas os espetáculos que serão
selecionados devem ter o mesmo tom: a rua e o processo artístico no
ambiente urbano. “Para a apresentação de dança, por exemplo, estamos
dialogando com grupos de dança urbana, para agregar mais ao visual das
fachadas”, afirmou João Fernandes.
Atividade educativa
Até o fim de agotso, a Cia. de Idéias vai realizar um seminário
voltado à sociedade em geral e aos artistas envolvidos no projeto
“Lugares que o dia não me deixa ver”. Na pauta desse “aquecimento” vão
estar assuntos como patrimônio histórico e bens materiais.
Mas, as intervenções com artes integradas a céu aberto fazem parte
apenas da primeira etapa do projeto. A segunda fase, não contemplada
pela Funarte, depende de parcerias e apoio financeiro para acontecer. A
meta é discutir temas como história e memória com alunos da rede
pública.
“É uma proposta que sai do campo artístico e passa a atuar no campo
da educação”, afirmou João Fernandes. A ideia é que o “banho de luz” nos
prédios do Centro dê visibilidade ao projeto e chame a atenção da
iniciativa pública e privada. Pela proposta, os alunos vão participar de
uma “revitalização digital” das construções da região histórica da
cidade. Eles farão visitas aos prédios abandonados para fotografar os
espaços e, com a ajuda de profissionais, farão um trabalho de
restauração digital das imagens.
Por Rosiel Mendonça
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