Reportagem do Site da Revista de História da Biblioteca Nacional sobre o memorial de Clara Nunes:
Ela foi a primeira a quebrar o tabu de que mulher não vendia disco
com as mais de 100 mil cópias do compacto “Tristeza, Pé no Chão”, em
1973. Inovou ao levar religiosidade e elementos estéticos africanos para
o meio fonográfico. E foi uma das pioneiras no resgate de baluartes do
samba, como Cartola (1908-1980) e Nelson Cavaquinho (1911-1986). No
domingo passado (12) Clara Nunes (1942-1983) faria seu 70º aniversário.
Para relembrar o nascimento da cantora, sua família organiza a sétima
edição do festival que leva o nome da artista. Além disso, a mineira
finalmente ganhou um memorial todo dedicado a seu acervo em
Caetanópolis, sua cidade natal, a 100 quilômetros de Belo Horizonte.
O Memorial Clara Nunes foi inaugurado no sábado (11) em cerimônia
fechada e já está aberto ao público. Devido ao tamanho grande do acervo,
não é possível expor todos os objetos de uma vez. As mostras serão
temporárias. “Clara não jogava nada fora, guardou até a roupa com que
foi coroada Rainha do Carnaval em Belo Horizonte, nos anos 1960. Depois
que ela morreu, guardamos tudo. Discos de Ouro, troféus, acessórios,
fantasias, reportagens, mais de 2.000 fotos. Já são 29 anos de luta para
criar o memorial. Devo ter feito uns seis projetos, mas só agora
conseguimos levar à frente. Temos até o apoio da Universidade de São
João Del Rei, que está restaurando o acervo e organizando a montagem da
exposição”, conta Maria Gonçalves, também conhecida como Dona Mariquita,
irmã de Clara.
A edição de 2012 do festival, além das atrações tradicionais, como
pintura, dança, música e a presença da Velha Guarda da Portela – escola
que homenageou a cantora no samba-enredo deste ano –, tem a presença dos
amigos de Clara, convidados por Dona Mariquita. A casa em que nasceu,
doada à prefeitura no fim de 2011, também será restaurada e ajudará a
formar um circuito considerável em torno da imagem da cantora, mas este
projeto, batizado de Espaço Cultural Casa da Clara, ainda aguarda
liberação de verba do Fundo Estadual de Cultura. O orçamento é de R$ 250
mil.
Foi ainda em Caetanópolis – na época Cedro, distrito de Paraopeba – que
Clara começou a participar de concursos de calouros. Mas só em Belo
Horizonte ela se consolidou como cantora, ao ganhar a fase mineira do
concurso “A Voz de Ouro do ABC” e se classificar no terceiro lugar
nacional. “Foi aí que ela veio ao Rio gravar seu primeiro LP, em 1966.
Ela começou cantando bolero, versões de músicas francesas e italianas,
flertou com a Jovem Guarda, participou de festivais universitários...
Mas só a partir dos anos 1970, quando mudou todo seu conceito de música e
estética, começou a fazer sucesso”, afirma o jornalista Vagner
Fernandes, autor de Guerreira da Utopia (Ediouro, 2007).
Com seu novo produtor, o radialista Adelzon Alves, Clara construiu uma
nova imagem ligada às raízes da cultura brasileira. Começou a gravar
sambas, frevos, forrós e jongos, mudou a forma de interpretar e passou a
usar roupas e acessórios que remetiam a religiões afro-brasileiras.
“Essa imagem foi construída, mas Clara sempre se interessou por essas
religiões. Aliás, ela era espiritualista, acreditava em qualquer caminho
que pudesse levá-la a Deus”, diz Fernandes. O sincretismo religioso
será um dos pontos fortes do memorial, que terá desde objetos de umbanda
e candomblé até o acervo barroco que decorava a casa da cantora no Rio
de Janeiro.
Olá,
ResponderExcluirEncontrei esta postagem enquanto lia assuntos relacionados à Clara Nunes. Muito interessante!
Abraços,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br