“Vou lhe dizer: Piratini às vezes parece que não cresceu. Se você
andar pra trás da esquina da Rua Bento Gonçalves, vai encontrar a
igreja, o clube... É uma volta no tempo”, conta Adel Vaz Bandeira, 75
anos. A sensação de estagnação relatada pelos moradores é um indício da
boa preservação histórica da cidade gaúcha, localizada no extremo sul do
estado, escolhida em 1836 como capital da República Farroupilha. A boa
conservação de vários edifícios da época inspirou a criação da Linha
Farroupilha, roteiro turístico inaugurado em setembro. Sinalizadores no
chão indicam nada menos do que 25 pontos históricos no município, como a
Antiga Cadeia, o Palácio do Governo Farroupilha e a casa do líder
Giuseppe Garibaldi, que será completamente restaurada até 2014.
“Os turistas podem fazer o trajeto sozinhos e, se quiserem, podem
consultar os moradores do centro histórico e as pessoas que trabalham
ali. Todos estão recebendo um livro com informações sobre a Linha
Farroupilha e a história da cidade”, explica a produtora cultural
Beatriz Araújo, que coordenou o projeto com a ajuda da Associação dos
Amigos do Museu Histórico Farroupilha. Dois mil exemplares do livro
começaram a ser distribuídos em setembro. Além disso, foram feitas 6.000
cartilhas de educação patrimonial, que serão distribuídas a todos os
alunos do ensino fundamental.
A equipe de Beatriz foi responsável pela restauração do Museu Histórico
Farroupilha, em 2011, e fará trabalho semelhante na Casa de Garibaldi.
Segundo Carla Menegat, historiadora do Instituto Federal Sul-rio-grandense,
a casa pertencia a um tio do líder farroupilha: “Garibaldi morou ali
com sua mulher e filhas. Mas ele e os demais farrapos pouco ficavam em
Piratini, pois estavam em campo, lutando”.
A situação da casa nem se compara com o estado em que se encontrava o
prédio do museu, de 1819. “Chovia aqui dentro, literalmente. Tivemos
também problemas de segurança, porque as portas de madeira cediam.
Ladrões roubaram cerca de dez armas do século XIX”, conta a diretora
Angélica Panatieri. Agora, as cerca de 400 peças estão a salvo. E talvez
ganhem adições. “O governador disse que gostaria de nos enviar todas as
peças do período que estão em outros museus estaduais. Mas acho que
eles não vão querer se desfazer disso”, diz a diretora.
Ainda que não receba as peças, Piratini está a caminho de se tornar a
principal cidade da rota farroupilha. “Ela tem a maior quantidade de
edifícios do período. E, como pouco cresceu, as pessoas continuam usando
os prédios. Não será preciso investir muito para restaurá-los”, afirma
Carla.
As novidades devem atrair mais turistas e afetar a calmaria da cidade,
mas nem o senhor Adel parece se importar. “Acho ótimo. Dei algumas
informações para eles escreverem o livro e já estou com o meu. Achei
muito bonito”, conta, orgulhoso.
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/parada-no-tempo
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