O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) investiga uma provável
operação minerária da Namisa, empresa do grupo da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), na face do Morro do Engenho voltada para a cidade de
Congonhas, na Região Central de Minas. “Existem veementes indícios de
que há intervenção na área que já é tombada”, afirma o coordenador da
Promotoria de Justiça da Defesa do Patrimônio Histórico do MPMG, Marcos
Paulo de Souza Miranda. O promotor recebeu a denúncia feita por duas
organizações da sociedade civil de Congonhas, solicitou à Polícia do
Meio Ambiente que vá até o local fazer uma investigação nos próximos
dias e determinou que a equipe técnica do MPMG faça um estudo sobre o
que ocorreu.
O Morro do Engenho, assim com a Serra Casa de Pedra, da qual faz
parte, é tombado por lei municipal desde 2007. De acordo com laudo
técnico do MPMG, o morro é a moldura natural do conjunto arquitetônico
da Basílica de Bom Jesus do Matosinhos e dos 12 profetas esculpidos por
Aleijadinho, considerados Patrimônio Histórico da Humanidade.
Tramita na Câmara Municipal o Projeto de Lei (PL) 027, de 2008, que
delimita os limites da exploração minerária no morro. O PL já foi votado
em primeiro turno no fim de setembro e os vereadores – mesmo com o
iminente fim do mandato – ainda não agendaram o segundo turno da
votação. A alegação é de que uma emenda apresentada por dois
parlamentares ampliou a área protegida pelo projeto de lei e contemplou
uma propriedade já explorada pela Vale, o que complicou o enredo.
Se a votação não acontecer este ano, a maioria dos novos vereadores
deverá se inteirar antes do assunto para só depois apreciar o tema.
Apenas quatro dos nove parlamentare foram reeleitos. Já se sabia que o
morro é essencial para o investimento de R$ 11 bilhões planejado pela
CSN e Namisa. Além da expansão da retirada de minério de ferro, os
bilhões englobam a construção de uma usina siderúrgica, duas usinas de
pelotização e um condomínio industrial.
Prova
O promotor Marcos Paulo de Souza Miranda já
garantiu que pedirá à Unesco que Congonhas perca o título de Patrimônio
da Humanidade caso o morro seja explorado no lado voltado para a cidade.
O local é também uma importante reserva ambiental com 29 captações de
água, que responde pela metade do abastecimento de Congonhas. As
denúncias investigadas pelo MPMG são fundamentadas por várias
fotografias feitas no dia 2, por volta do meio-dia, que mostram
escavadeiras e caminhões operando no topo do morro.
A denúncia foi feita pela ONG Gota d’água do Alto Paraopeba e pela
União das Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon). De acordo com
o promotor, se confirmada a exploração no morro, a prática é
considerada crime, de acordo com o artigo 63 da Lei Federal 9.605 de
1998, e pode levar os responsáveis à reclusão de um a três anos. “A lei
não deixa dúvida, pois a face voltada para cidade é tombada pela lei
municipal”, garantiu o promotor. A CSN/Namisa, por meio de sua
assessoria de imprensa, foi procurada no início da tarde de ontem, mas
até o fechamento desta edição não respondeu à reportagem.
Proteção
Uma liminar proposta em ação civil pública do MPMG já protege o Morro
do Engenho. A decisão da Justiça impediu uma manobra da CSN, que queria
transferir a reserva ambiental legal de aproximadamente 978 hectares
para duas localidades: a vizinha Belo Vale e o distrito de Alto
Maranhão. A estratégia era um um subterfúgio da empresa caso os
vereadores de Congonhas aprovem o Projeto de Lei 027, de 2008. “A
questão foi judicializada. Mesmo que os vereadores votem favoravelmente à
exploração do morro, a decisão será da Justiça”, explica o promotor de
Congonhas, Vinícius Alcântara Galvão.
R$ 10 milhões bloqueados
O Banco Central bloqueou R$ 9,92 milhões das empresas Vale, CSN e Namisa, por descumprimem determinação judicial para que limpassem a sujeira que provocam no trecho da rodovia BR-040, próximo a Congonhas. A execução da dívida foi proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) no fim de junho. Ontem, o Banco Central confirmou o bloqueio do dinheiro na conta das empresas. Foram retidos R$ 3,88 milhões da Vale, R$ 3 milhões da CSN e R$ 3,04 milhões da Namisa.
O Banco Central bloqueou R$ 9,92 milhões das empresas Vale, CSN e Namisa, por descumprimem determinação judicial para que limpassem a sujeira que provocam no trecho da rodovia BR-040, próximo a Congonhas. A execução da dívida foi proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) no fim de junho. Ontem, o Banco Central confirmou o bloqueio do dinheiro na conta das empresas. Foram retidos R$ 3,88 milhões da Vale, R$ 3 milhões da CSN e R$ 3,04 milhões da Namisa.
A ação foi uma iniciativa conjunta dos promotores Vinícius Alcântara
Galvão, Marcos Paulo de Souza Miranda e Carlos Eduardo Ferreira Pinto,
que conseguiram na Justiça, no início do ano, decisões liminares
obrigando as três mineradoras a usarem veículos apropriados – caminhões
com vedação da carga – para o transporte de minério de ferro nas
rodovias que cortam a cidade. A sujeira nas vias e a poeira do minério
de ferro provocam prejuízos ambientais e à saúde da população.
Multas A Justiça de Congonhas determinou que as mineradoras usem
caminhões com caçambas e lonas para impedir que o material transportado
se espalhe nas rodovias. As três foram obrigadas também a realizar a
limpeza da BR-040 e dos veículos antes da saída deles das minas. As
mineradoras, porém, não cumpriram o prazo e passaram a ser multadas
diariamente em R$ 100 mil. Os valores das multas serão destinados ao
Fundo Estadual de Direitos Difusos Lesados, voltado para custear
projetos de defesa do meio ambiente e do patrimônio cultural, em
Congonhas.
A assessoria de imprensa da Vale informou que a empresa não se
manifesta sobre processos em andamento. A assessoria de imprensa da
CSN/Namisa não respondeu o contato da reportagem. Por Daniel Camargos
Fonte: http://www.defender.org.br/congonhasmg-mp-apura-ameaca-ao-morro-dos-profetas/
Imagens entregues ao Ministério Público, mostram escavadeiras operando no topo do morro que é moldura natural do conjunto arquitetônico e dos profetas esculpidos por Aleijadinho.
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