As toneladas de 150 mil itens do acervo, as intempéries, os 122 anos
de idade e a falta de conservação deixaram em más condições o prédio do
Museu Paulista – mais conhecido como Museu do Ipiranga –, um dos mais
visitados cartões-postais de São Paulo. Pedaços de reboco da fachada
estão caindo e o forro de um dos principais salões cedeu 10 centímetros,
determinando sua interdição.
A esses problemas soma-se uma outra questão fundamental: o prédio,
que recebe 300 mil visitantes por ano, não segue normas de
acessibilidade a deficientes físicos.
Um plano de recuperação do museu será executado ao longo do próximo
ano e, durante as obras, a diretora Sheila Walbe Ornstein não descarta o
fechamento parcial ou total da instituição. “Quando formos recuperar os
salões que tiveram problemas no forro, precisaremos esvaziar essas
salas cheias de mobília. Provavelmente teremos de acondicionar esse
acervo no nosso salão nobre, restringindo ali o acesso”, afirma.
“Durante as obras no subsolo, ficaremos sem banheiro para visitantes. Há
uma situação de fechamento”, avisa.
O projeto de recuperação já foi traçado e vem sendo estudado por
profissionais da Universidade de São Paulo (USP) – instituição que
administra o museu – e por conselheiros dos três órgãos de proteção do
patrimônio que tombaram o edifício – o Iphan, o Condephaat e o Conpresp.
A próxima reunião está agendada para o dia 30.
Defeitos. Boa parte dos problemas é perceptível aos
visitantes mais atentos. Trincas e rachaduras são visíveis nos cômodos
internos. Do lado de fora, correntes de proteção impedem que as pessoas
se aproximem da fachada por segurança, uma vez que pedaços do reboco
podem cair.
A tinta usada na última pintura, em 1990, foi inadequada. “Por ser de
látex, criou uma camada sintética. Com as falhas, acumula água da chuva e
os tijolos se desmancham”, diz Sheila.
A primeira etapa, emergencial, deve ser iniciada em 20 dias. O
subsolo, hoje em parte ocupado pelo setor administrativo, será esvaziado
e passará por obras para receber os itens mais pesados da reserva
técnica. Carruagens e mobiliário de madeira maciça e materiais metálicos
sairão dos andares superiores, aliviando a estrutura do prédio.
No próximo ano, o museu deve tornar-se acessível, com adaptações em
rampas, banheiros e catracas. No orçamento que tem em mãos, de R$ 21
milhões, a diretora contempla a modernização da segurança e da parte
elétrica e a recuperação das fachadas.
Para custear as obras, ela diz acreditar também na ajuda da
iniciativa privada. “A sociedade precisa se mobilizar e nos ajudar a
conseguir esses recursos”, pede Sheila.
Peso
Para não sobrecarregar demais a estrutura, o museu não suporta mais de 800 visitantes simultâneos – o controle é feito na portaria.
Para não sobrecarregar demais a estrutura, o museu não suporta mais de 800 visitantes simultâneos – o controle é feito na portaria.
Desafio é preparar edifício para 2022
O Museu Paulista já tem um plano para comemorar bem o 2º Centenário da Independência do Brasil, em 2022. Se depender da vontade dos atuais administradores, a instituição terá um anexo, dobrando sua área útil atual – de 6,4 mil metros quadrados – para abrigar laboratórios e reserva técnica. O prédio original seria, então, somente expositivo.
O Museu Paulista já tem um plano para comemorar bem o 2º Centenário da Independência do Brasil, em 2022. Se depender da vontade dos atuais administradores, a instituição terá um anexo, dobrando sua área útil atual – de 6,4 mil metros quadrados – para abrigar laboratórios e reserva técnica. O prédio original seria, então, somente expositivo.
‘É preciso levar o museu do século 19 para o século 21’
Do célebre Afonso d’Escragnolle Taunay (1876 -1958) à diretora
anterior à atual, Cecília Helena de Salles Oliveira, o Museu Paulista
sempre foi conduzido por historiadores. Sheila Walbe Ornstein é a
primeira arquiteta a ocupar o cargo.
Sua nomeação, no primeiro semestre deste ano, pelo reitor da
Universidade de São Paulo, João Grandino Rodas, não foi por acaso.
Autora de sete livros e ex-vice-diretora da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo (FAU) da USP, Sheila tem a missão de administrar, em seus
quatro anos de mandato, o Museu Paulista com cabeça, coração e talento
arquitetônico.
Ela não parece ter pressa. Frisa que o trabalho precisa ser feito com
a calma, o cuidado e a paciência exigidas por um centenário edifício
tão maltratado. Inspira-se o tempo todo no engenheiro e arquiteto
italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi (1844-1915), autor do projeto.
Reconhece que, não fosse a perícia do autor, o prédio – projetado para
ser um monumento e não um museu – não teria suportado tanto tempo e
peso.
Seu desafio é planejar o futuro. Colocar em prática um plano de ação
que garanta a sobrevivência do edifício que guarda itens
importantíssimos para a História do Brasil.
Em suas palavras, “é preciso deixá-lo, como patrimônio, no século 19,
mas, ao mesmo tempo e cuidadosamente, transportá-lo para o século 21.”
Prédio já foi projetado como monumento
Estilo renascentista
Às margens do Córrego do Ipiranga, o prédio ficou pronto em 1890. Foi obra do arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi.
Às margens do Córrego do Ipiranga, o prédio ficou pronto em 1890. Foi obra do arquiteto e engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi.
Museu
O monumento foi transformado em museu em 1895 – no primeiro ano, já recebeu 40 mil visitantes. Passou a ser administrado pela USP em 1963.
O monumento foi transformado em museu em 1895 – no primeiro ano, já recebeu 40 mil visitantes. Passou a ser administrado pela USP em 1963.
Interdições
Em sua história, o museu ficou fechado apenas quatro períodos – em 1921, de 1953 a 1955, em 1961 e em 1963. A última reforma foi nos anos 1980.
Em sua história, o museu ficou fechado apenas quatro períodos – em 1921, de 1953 a 1955, em 1961 e em 1963. A última reforma foi nos anos 1980.
Publicado originalmente na edição impressa do Estadão, dia 23 de novembro de 2012
Por Blog Edison Veiga
Fonte: http://www.defender.org.br/sp-ma-conservacao-ameaca-fechar-museu-paulista/
Para proteger os visitantes de constantes quedas de parte do reboco, correntes bloqueiam acesso à região próxima da fachada. Fotos: Robson Fernandjes/Estadão
A deterioração da fachada é visível em todo o prédio.
Por conta das intempéries e falta de conservação, tijolo aparece em várias partes do prédio.
Rachaduras são visíveis no interior do museu.
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