Famosas pela beleza e fascinantes pela história, as pedras que estão
sobre as águas da baía do Bairro Itaguaçu serão tombadas como patrimônio
histórico e cultural de Florianópolis. A intenção do prefeito Cezar
Souza Junior é iniciar o processo de tombamento nos próximos meses. Com
ele, as pedras terão garantidas a continuidade de sua memória e de seu
valor cultural. Como tantas outras histórias misteriosas que rondam a
Capital, seriam as bruxas que tornaram tamanho reconhecimento possível?
Há pesquisadores que acreditam na veracidade dos contos bruxólicos.
A transformação de Florianópolis, que completa 287 anos de fundação
amanhã, em ilha da magia ou mesmo em ilha das bruxas começou por volta
do século 18 quando os imigrantes vindos da região dos açores trouxeram
na bagagem algumas particularidades culturais como as bruxas, os
encantamentos, os pactos com o demônio e as crendices. Passados três
séculos, os contos resistem e encantam até hoje. Histórias que são muito
respeitadas e que mexem com a imaginação e o sentimento dos ilhéus.
Tão complicado como compreender uma história recheada de magia é
entender como nasce uma. Mas a do baile das bruxas de Itaguaçu é
simples. O próprio autor conta como e quando ele criou o conto. Gelci
José Coelho, o Peninha, é um dos principais entusiastas da cultura
popular catarinense e estudioso das obras de Franklin Cascaes. Conhece
todas as fábulas da ilha e de tanto ler e ouvir sobre elas, criou uma e
sem querer transformou a região que logo após a história ficar famosa
nacionalmente, ganhou reconhecimento, foi urbanizada e hoje é uma das
áreas mais valorizadas da cidade.
— Aquilo (o Bairro Itaguaçu) era um despachódromo, um lugar
asqueroso. Depois que ganhou uma história, a prefeitura colocou deques,
instalou uma placa contando sobre o baile das bruxas, disponibilizou
bancos com poemas, o lugar se transformou, taí um dos poderes das bruxas
— diz Peninha.
Sem cerimônias, o pesquisador afirma que tal transformação das bruxas
em pedras nunca existiu, ele inventou quase que um momento de
brincadeira inspirado nas histórias de Cascaes e que tudo não passa de
folclore.
— Penso que as histórias sobre bruxas e lobisomens eram contadas para
frear as pessoas, como uma mãe que contava um conto para um filho não
sair à noite e passaram de geração para geração, são folclores e é
difícil saber o que de fato aconteceu e o que é mito. Mas o baile das
bruxas, este eu posso afirmar que é um conto porque fui eu mesmo que
inventei — conta.
Conheça a história e saiba como ela surgiu
“Na década de 1990 quando a TVCOM se instalava em Florianópolis, ela
estava selecionando equipes de jornalistas para trabalhar. Os candidatos
tinham que apresentar uma reportagem sobre uma história curiosa da
cidade. Era um domingo de sol claro, quando por volta das duas horas da
tarde uma jornalista me procurou, ela queria relatar a história do
Boitatá do Morro do Rapa, e nós teríamos que ir até Ponta das Canas e eu
morava em São José, era muito longe. Aí como era caminho perguntei por
que ela não fazia sobre a história das bruxas de Itaguaçu? Ela aceitou e
eu encurtei a viagem contando:
Em um sabá (assembleia de bruxas) realizado na região, elas se
reuniram e uma delas, da alta sociedade contou sobre os bailes que ia no
Clube 12, dos vestidos e luvas longas, da música e as outras se
interessam e tiveram a ideia de fazer uma linda festa ali em Itaguaçu, o
mais belo cenário da cidade, porque bruxas só gostam dos lugares mais
lindos. Todos foram convidados, os lobisomens e os vampiros. Mas elas
decidiram não convidar o diabo pela razão do seu imenso fedor de enxofre
e pelas suas atitudes antissociais, pois ele exige que todas as bruxas
lhe beijem o rabo como forma de firmar seu poder debochadamente
absoluto.
A festa se desenrolava, quando uma das bruxas muito invejosa foi
fofocar ao diabo sobre a festa. Ele puto dos cornos chegou até a festa e
irritado transformou todas elas em pedras grandes, que até hoje flutuam
nas águas da praia de Itaguaçu”. A jornalista ficou contente com a
história, gravamos imagens lindas do local e logo depois o assunto já
era nacional.
Fonte: http://www.defender.org.br/florianopolis-sc-pedras-da-praia-do-itaguacu-serao-tombadas-como-patrimonio-cultural/
Segundo o conto de Peninha, as pedras representam bruxas que foram petrificadas durante um baile. Foto: Roberto Scola / Agencia RBS
Nenhum comentário:
Postar um comentário