Depois da Capela Sistina, obra maior de Miguel Ângelo, os Museus
do Vaticano terminaram agora o restauro dos frescos que Rafael criou
para o palácio dos Papas, encomendados ao mestre do Renascimento por
Júlio II.
Com os frescos da famosa Sala de Heliodoro, os
Museus do Vaticano concluem a empresa de restauro das pinturas
realizadas ou projectadas por Rafael Sanzio (1483-1520) no início do
século XVI, em resposta a uma encomenda do Papa Júlio II, em Roma.
A Sala de Heliodoro faz parte de um complexo de quatro câmaras no 3.º
andar do Palácio do Vaticano, que dá acesso à icónica Capela Sistina,
cujo restauro terminou em 1999 sob intensa polémica.
“Desmontámos o último andaime na parede que representa o encontro de
Leão I, o Grande, com Átila. A partir de agora, a Sala de Heliodoro, a
principal obra de Rafael, que leva até ao zénite a arte do fresco, é
oferecida à admiração de qualquer pessoa que tenha olhos para ver”,
disse o director dos Museus, Antonio Paolucci, ao jornal oficial do
Vaticano, L’Osservatore Romano.
A Sala de Heliodoro foi decorada entre 1511 e 1514 e é a segunda
nesta ala do palácio que começa com a da Assinatura (1508-1511) e segue
com a do Incêndio do Borgo (1514-1517) e a Sala Constantino (1517-1525).
Se os frescos de todas elas foram projectados e desenhados por Rafael,
os das duas últimas foram já acabados após a morte do grande mestre do
Renascimento. Mas é na Sala de Heliodoro que o artista atinge o cume da
sua arte, como referiu Paolucci, responsável por este complexo de museus
que recebe quatro milhões de visitantes por ano.
As quatro paredes desta divisão – que acolhia as audiências privadas
do Papa – estão forradas com outros tantos frescos representado,
respectivamente, a Missa de Bolsena, O Encontro de Leão I, o Grande, com Átila, A Expulsão de Heliodoro do Templo e A Libertação de São Pedro.
Uma sucessão de quadros que expressa o programa político do Papa Júlio
II, não só ilustrando o poder da Igreja sobre o paganismo e os então
designados “bárbaros”, mas também a preocupação de libertar a Itália da
época do domínio francês.
Já do ponto de vista estético, o fresco que representa a libertação
do apóstolo S. Pedro da prisão por um anjo é especialmente notado por
introduzir um contraste pioneiro entre a luz e a sombra, o claro e o
escuro, na história da pintura, antes mesmo de Caravaggio e de Goya, e
da Ronda da Noite de Rembrandt.
Este conjunto majestoso pintado pelo mestre de Urbino e pelos seus
alunos e discípulos – entre os quais normalmente se referem os nomes de
Luca Signorelli, Bramantino, Lorenzo Lotto e Cesare da Sesto –, “a
partir de agora, pode ser contemplado no seu todo”, acrescentou
Paolucci. Os responsáveis da instituição não disponibilizaram agora –
nem ao longo do processo – nenhuma imagem dos frescos restaurados.
Também não divulgaram o custo da operação, que começou há 30 anos e que,
segundo noticiou em 2007 o jornal americano The Seattle Times,
foi patrocinado em meio milhão de dólares por um mecenas privado de
Nova Iorque (o restauro da Capela Sistina, por seu turno, foi pago por
uma televisão japonesa).
O facto de o restauro da famosa capela ter dado origem a uma acesa
polémica entre especialistas e investigadores pode justificar o aparente
recato do Vaticano relativamente aos frescos da ala de Rafael.
O trabalho nesta ala dos Museus do Vaticano foi realizado por uma
equipa de especialistas da instituição, dirigida por Paolo Violini, com o
acompanhamento do professor de História da Arte Arnold Nesselrath,
especialista na obra de Rafael.
“Os frescos foram todos vistos, ligeiramente limpos, restaurados
quando necessário, e sobretudo minuciosamente analisados e estudados”,
disse ainda Antonio Paolucci ao Osservatore Romano.
Durante esse trabalho, foram descobertas algumas curiosidades
relativas aos trabalhos originais, entre as quais uma mão marcada numa
parede – que não se sabe se será do próprio Rafael, que só acompanhou o
processo até à conclusão da Sala do Incêndio do Borgo, em 1517 – e uma
mancha vermelha no nariz do anjo no quadro da libertação de S. Pedro.
Refira-se que as duas últimas salas foram terminadas já por
iniciativa do Papa Leão X, sucessor de Júlio II, que morreu em 1513. Por Sérgio C. Andrade
Fonte: http://www.defender.org.br/frescos-de-rafael-no-vaticano-como-nunca-os-tinhamos-visto/
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