sábado, 26 de janeiro de 2013

Restauração sem traumas

Academia Brasileira de Letras decide restaurar três manuscritos do século XVIII sobre marquês de Pombal

Mauro de Bias

Três relíquias literárias portuguesas com mais de 200 anos vão voltar tinindo à biblioteca da Academia Brasileira de Letras (ABL). A instituição decidiu restaurar livros manuscritos sobre o marquês de Pombal (1699-1782). Eles estavam em seu acervo e jamais chegaram a ser impressos. Após o processo, as obras serão ainda digitalizadas para facilitar a consulta. Os livros em questão são Vida de Sebastião de Carvalho e Mello; Apresentação do Marquês de Pombale Representações que tive agora, depois das viagens. Eles não estão datados, mas segundo pesquisadores, sabe-se que os dois primeiros foram escritos durante a vida do marquês.

Segundo o escritor e membro da ABL Alberto da Costa e Silva, as obras são raras. Da primeira, escrita antes de Sebastião de Carvalho e Mello ser nomeado o famoso marquês, só existe uma cópia que se tenha conhecimento, e ela está guardada na Torre do Tombo, em Lisboa.

De acordo com Costa e Silva, ao contrário do que chegou a ser especulado, os livros não foram uma descoberta, tampouco uma surpresa. “Já se sabia onde eles estavam. Mas agora nós decidimos restaurá-los”, afirma o escritor. As obras pertenciam à coleção de Marcos Carneiro de Mendonça (1894-1988), que trabalhou como historiador e goleiro do Fluminense e da seleção brasileira.

O processo de recuperação dos livros históricos é longo e pode levar de seis meses a um ano, segundo o acadêmico. E o trabalho não será nada fácil. “A tinta usada era muito corrosiva”, diz Costa e Silva. “Por isso decidimos restaurar na Biblioteca Nacional, que faz um excelente trabalho nessa área. Depois, os livros serão digitalizados”, conclui o imortal.

Patrícia Giordano, especialista em restauração de livros e obras raras do Instituto Hercule Florence, ressalta as particularidades desse tipo de recuperação. “Com tinta ferrogálica, usa-se fitato de cálcio. É um tratamento complexo, neutraliza a oxidação do documento. Antes, porém, é necessário fazer uma análise, ver se o papel aguenta”. Se não aguentar, o processo pode destruir as folhas, segundo a especialista. “O grau de intervenção vai ser definido pelo próprio documento”, analisa.

O historiador Francisco José Calazans Falcon afirma que os textos escritos durante a vida do marquês de Pombal podem conter imprecisões. “Ele era autoritário, não admitia opiniões contrárias, e foi se livrando dos adversários conforme eles apareciam. Enquanto ele viveu, a maioria ou ficou calada ou teceu elogios. Então, os elogios da época em que ele estava vivo, nós temos de colocar sob suspeita”, afirma o professor.

Depois que o marquês foi dispensado e exilado pela rainha Maria I, em 1777, seus detratores surgiram aos montes. “Aí os ratos saltaram no convés. Todo o mundo botou as unhas de fora”, brinca Falcon. A própria soberana era um desafeto. A “demissão” do nobre foi seu primeiro ato no poder. Hoje, o Brasil dispõe de pouco acervo sobre Pombal. Agora, obras renovadas e digitalizadas vão melhorar o trabalho dos pesquisadores.




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