Mauro de Bias
Três
relíquias literárias portuguesas com mais de 200 anos vão voltar tinindo à
biblioteca da Academia Brasileira de Letras (ABL). A instituição decidiu
restaurar livros manuscritos sobre o marquês de Pombal (1699-1782). Eles
estavam em seu acervo e jamais chegaram a ser impressos. Após o processo, as
obras serão ainda digitalizadas para facilitar a consulta. Os livros em questão
são Vida de Sebastião de
Carvalho e Mello; Apresentação
do Marquês de Pombale Representações
que tive agora, depois das viagens. Eles não estão datados, mas
segundo pesquisadores, sabe-se que os dois primeiros foram escritos durante a
vida do marquês.
Segundo
o escritor e membro da ABL Alberto da Costa e Silva, as obras são raras. Da
primeira, escrita antes de Sebastião de Carvalho e Mello ser nomeado o famoso
marquês, só existe uma cópia que se tenha conhecimento, e ela está guardada na
Torre do Tombo, em Lisboa.
De
acordo com Costa e Silva, ao contrário do que chegou a ser especulado, os
livros não foram uma descoberta, tampouco uma surpresa. “Já se sabia onde eles
estavam. Mas agora nós decidimos restaurá-los”, afirma o escritor. As obras
pertenciam à coleção de Marcos Carneiro de Mendonça (1894-1988), que trabalhou
como historiador e goleiro do Fluminense e da seleção brasileira.
O
processo de recuperação dos livros históricos é longo e pode levar de seis
meses a um ano, segundo o acadêmico. E o trabalho não será nada fácil. “A tinta
usada era muito corrosiva”, diz Costa e Silva. “Por isso decidimos restaurar na
Biblioteca Nacional, que faz um excelente trabalho nessa área. Depois, os
livros serão digitalizados”, conclui o imortal.
Patrícia
Giordano, especialista em restauração de livros e obras raras do Instituto
Hercule Florence, ressalta as particularidades desse tipo de recuperação. “Com
tinta ferrogálica, usa-se fitato de cálcio. É um tratamento complexo,
neutraliza a oxidação do documento. Antes, porém, é necessário fazer uma
análise, ver se o papel aguenta”. Se não aguentar, o processo pode destruir as
folhas, segundo a especialista. “O grau de intervenção vai ser definido pelo
próprio documento”, analisa.
O
historiador Francisco José Calazans Falcon afirma que os textos escritos
durante a vida do marquês de Pombal podem conter imprecisões. “Ele era
autoritário, não admitia opiniões contrárias, e foi se livrando dos adversários
conforme eles apareciam. Enquanto ele viveu, a maioria ou ficou calada ou teceu
elogios. Então, os elogios da época em que ele estava vivo, nós temos de
colocar sob suspeita”, afirma o professor.
Depois
que o marquês foi dispensado e exilado pela rainha Maria I, em 1777, seus
detratores surgiram aos montes. “Aí os ratos saltaram no convés. Todo o mundo
botou as unhas de fora”, brinca Falcon. A própria soberana era um desafeto. A
“demissão” do nobre foi seu primeiro ato no poder. Hoje, o Brasil dispõe de
pouco acervo sobre Pombal. Agora, obras renovadas e digitalizadas vão melhorar
o trabalho dos pesquisadores.
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