sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Museu, Tiradentes, MG

O Museu da Liturgia de Tiradentes, inaugurado em abril, abriga mais de 420 peças de alto valor artístico e histórico dos séculos 18 e 19. São pinturas, ex-votos, esculturas, paramentos, castiçais e candelabros de prata e estanho, tocheiros, missais, cálices, turíbulos, palmas de altar, lanternas e cruzes processionais. Ali, a construção antiga convive em harmonia com a ampliação de linhas retas e paredes brancas.
O recém-inaugurado Museu da Liturgia traz para Tiradentes uma demonstração muito eficiente da convivência do antigo com o moderno. Na histórica cidade mineira, tem sido mais comum que os acréscimos e anexos necessários para adequar as construções centenárias a um novo uso (tanto residencial como comercial) repitam a estética colonial.
No museu, porém, os arquitetos Ângela Arruda Fernandes e Luis Alberto Therisod, do escritório AF&T Associados, optaram por deixar bem evidente a intervenção atual.
Uma faixa vertical de vidro separa e integra o núcleo original (construído para moradia em meados do século 18) e a área nova, com cobertura de lajes impermeabilizadas. Essa, sem dúvida, foi a contribuição mais notável dos arquitetos.
Um volume de linhas simples, no qual a grande marquise branca, os generosos panos de vidro e a ausência de telhas de barro na cobertura já indicam, desde o pátio de acesso, que se trata de uma intervenção contemporânea.
A mesma proposta foi aplicada no anexo de 185 metros quadrados, destinado a abrigar reserva técnica, laboratório, núcleo de pesquisa e espaço educativo.
As duas áreas recentes não travam competição com a mais antiga. Elas são coadjuvantes, deixando o papel principal para a construção setecentista.
Por isso, o trabalho mais árduo - e hoje praticamente invisível - foi o de restauro e adequação da edificação existente, que tinha aproximadamente 250 metros quadrados.
Ao longo do século passado, foram feitas três intervenções que aumentaram a área construída. Internamente, a casa colonial foi sendo adaptada para diferentes usos: paredes foram erguidas, quartinhos e banheiros foram instalados.
A cada intervenção no pavimento térreo correspondia uma coluna ou parede de sustentação no subsolo, transformando o porão num labirinto quase impenetrável. Tudo isso foi removido.
O piso do subsolo foi rebaixado e a sala principal da antiga moradia, livre de paredes internas, tornou-se o maior espaço de exposição do museu.
Para não comprometê-lo, a porta original permanece fechada e o acesso foi deslocado para o pátio lateral.
Todos os elementos da construção original foram mantidos ou restaurados, assegura Ângela. “Nas fachadas laterais, as esquadrias retiradas em reformas anteriores foram resgatadas ou reconstruídas e instaladas nos locais dos vãos originais”, revela a arquiteta.
O piso e o forro do núcleo original estavam de tal modo deteriorados que foram totalmente substituídos, ganhando tratamento acústico fundamental para o novo uso.
Todas as salas são climatizadas e, no subsolo, devido ao pé-direito baixo, os dutos foram instalados na parede lateral.
O hall de entrada, com altura dupla, abriga a circulação vertical (pequeno elevador e escada metálica) e permite a integração museográfica dos dois pavimentos. O piso faz referência aos tapetes de serragem usados em algumas procissões.
O processo de conceituação, estruturação, projeto e implantação do Museu da Liturgia durou cerca de dois anos. Desde o início, arquitetura e museografia foram concebidas em harmonia.
O designer Ronaldo Barbosa, responsável pelo projeto museográfico, participou de todas as fases do processo.

Texto de Airton Ribeiro
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 391 Setembro de 2012

Mais detalhes e imagens no Site: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/aft-associados-museu-tiradentes-minas-gerais-19-12-2012.html 





















À esquerda, a fachada da casa original (do século 18) depois de restaurada















O pátio de acesso, com vista da parte de trás da edificação original. À direita, a ampliação separada por uma faixa vertical de vidro















Materiais aparentes caracterizam os interiores

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