Autoridades querem reconstruir praça com base em arquitetura da
dinastia Qing à custa de dezenas de casas que representam patrimônio
cultural de séculos do país.
Em um canto da antiga Pequim, o governo poderá em breve destruir sua história.
Autoridades do distrito querem recriar um pedaço do passado glorioso
da China dinástica reconstruindo uma praça perto da Torre do Sino e do
Tambor com base na arquitetura da dinastia Qing. Para fazer isso, eles
demolirão dezenas de casas que preservacionistas disseram terem se
tornado parte de uma história cultural que desaparece rapidamente à
medida que a capital muda.
Por causa da recente renovação, há muitas casas novas e sem história.
Mas as antigas se encontram em becos tortos conhecidos como “hutongs”, e
sua história começou séculos atrás.
Ao longo de suas ruas e dentro de suas paredes remendadas, um velho
modo de vida ainda é visível – quartos pequenos, pátios partilhados,
roupas penduradas para secar – contra um pano de fundo de arranha-céus.
O
plano para reconstruir o bairro tem despertado a ira de quem acredita
que isso seria como trocar uma peça real e viva da história de Pequim
por algo estático e falso.
“Eles querem que a praça da Torre do Sino e do Tambor volte ao tempo
da dinastia Qing, mas ao fazer isso destruirão uma obra rica do
patrimônio cultural”, disse He Shuzhong, fundador do Centro de Proteção
do Patrimônio Cultural de Pequim, um organização não-governamental.
“Acreditamos que a proteção do patrimônio cultural tem a ver com
herança, com história. É um processo da história. O patrimônio não
precisa necessariamente refletir o mundo que vivemos hoje”, disse.
Dominic Johnson-Hill, um empresário britânico que passou nove anos
vivendo no bairro da Torre do Sino e do Tambor, disse que os hutongs
“são uma espécie de museus vivos da China ou pelo menos de Pequim”.
“Se você visita a Cidade Proibida, ela tem uma sensação de ser
completamente vazia, assim como muitos outros marcos culturais na China.
Mas quando você visita um hutong, você sente como se estivesse em
algumas das melhores obras vivas de Pequim”, disse Johnson-Hill.
Um plano anterior de 2009 que pretendia demolir as casas com intuito
de construir um shopping subterrâneo foi arquivado após a oposição de
grupos cívicos e de alguns moradores. Agora, um plano menos ambicioso
está sendo ponderado.
O governo distrital de Dongcheng disse que o
novo plano pretende preservar a história. Ele restaurará a praça “à sua
aparência original” utilizando mapas do período Qianlong na dinastia
Qing no século 18 e outros períodos não especificados, embora os
projetos ainda estejam em discussão e os detalhes sejam vagos.
Moradores, no entanto, foram notificados que deverão se mudar em
dezembro.
Os desalojados serão transferidos para apartamentos maiores mais
distantes do centro da cidade. Moradores que agregaram ilegalmente um
segundo e terceiro andar não serão compensados, disse Li Guanghui,
vice-chefe da administração de moradia de Dongcheng.
Autoridades disseram que o projeto elevará os padrões de vida dos
residentes e resgatará a aparência histórica da região. Especialistas em
patrimônios culturais discordaram, dizendo que as casas existentes
deveriam ser renovadas e não destruídas.
O crescimento econômico da China e a explosão imobiliária ao longo
das últimas três décadas transformaram suas grandes cidades à custa da
história. Um terço dos hutongs de Pequim desapareceu desde o início dos
anos 1990 e outro terço perdeu sua aparência original após a renovação,
de acordo com estimativas do Centro de Proteção do Patrimônio Cultural
de Pequim.
Autoridades de Dongcheng afirmaram que a praça da Torre do Sino e do
Tambor não se tornará uma rua comercial e a área circundante permanecerá
residencial. Mas aqueles nas imediações terão de desocupar o local.
Muitos não estão preocupados com a mudança e estão ansiosos para
morar em casas mais novas e maiores. “Queria mudar de casa há 30 anos”,
disse uma mulher que se identificou apenas pelo sobrenome Wang.
Liu Fengying, 64, foi mais melancólica. Liu, que se lembra que três
gerações anteriores de sua família viviam no bairro, hospedou visitantes
enquanto vestia um casaco de inverno e sentava-se em uma cama que
ocupava cerca da metade de um de seus dois pequenos quartos. O varal
passava pelo meio de sua sala e um calendário com um desenho de um jovem
Mao Tsé-Tung estava pendurado na parede.
“Não estou disposta a ir embora”, disse. “Mas se o Estado precisa
dessa terra, então não temos escolha. Eles vão nos dar casas maiores,
apesar de estarem localizadas um pouco longe de tudo.” Por Louise Watt. AP
Fonte: http://www.defender.org.br/para-recriar-passado-china-destroi-sua-propria-historia-em-distrito-de-pequim/
Bicicleta é estacionada do lado de fora de casa hutong com aviso de demolição perto da Torre do Sino e do Tambor em Pequim (26/12/2012). AP
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