Interessante matéria do colunista Edison Veiga, veiculada pela rádio Estadão em 6 de fevereiro de 2013.
Não fosse a Primeira Guerra Mundial, o centro de São Paulo poderia
ser parecido com o de Paris. Ou, ao menos, com o de Buenos Aires. Isso
porque o arquiteto e urbanista francês Joseph-Antoine Bouvard chegou a
ser contratado – por 5 mil libras esterlinas – para repensar a
organização da cidade pelo prefeito Raimundo Duprat.
Seu currículo era inquestionável. Entre 1897 e 1911, Bouvard foi
diretor honorário dos serviços de arquitetura, passeios, viação e plano
da cidade de Paris. “Detinha sólida reputação internacional, firmada em
mais de 40 anos de atividade como arquiteto e urbanista”, escreve o
arquiteto Eudes Campos, no livro Arquivo Histórico de São Paulo – História Pública da Cidade.
Em 1907, foi contratado pela prefeitura de Buenos Aires para
remodelar a capital portenha. “Nesse vaivém entre Europa e América do
Sul, costumava passar por São Paulo”, conta o historiador Guido
Alvarenga, do Arquivo Histórico Municipal. Numa dessas passagens, em
1911, acabou contratado pelo prefeito Duprat, que queria os préstimos do
francês na malha urbana paulistana. Ele ficou 40 dias na capital
paulista e elaborou um relatório em que enumerava os pontos prioritários
a serem melhorados.
Preocupado com a ocupação dos “claros” deixados pela ocupação natural
dos terrenos, ele propõe um traçado mais orgânico das ruas centrais. Os
vales, portanto, deixariam de ser vazios. Seu projeto melhoraria também
o Anhangabaú e a várzea do Carmo, com uma modernização global das ruas
centrais.
Entre 1911 e 1914, a prefeitura deu início a tais obras. A então Rua
de São João se transforma em avenida, a Rua Líbero Badaró é alargada e
outras vias centrais ganham melhoramentos. E é aprovada a criação de uma
praça no início do Viaduto do Chá – a Praça do Patriarca, que só seria
concluída no início dos anos 1920.
“Mas aí veio a guerra…”, comenta o historiador Guido Alvarenga. Por
razões financeiras, o “plano Bouvard” acaba interrompido. São Paulo não
virou Paris, nem Buenos Aires – cresceu e se tornou gigante a seu modo:
caótico, mas completo.
Tema da coluna veiculada pela rádio Estadão em 6 de fevereiro de 2013
São Paulo
Paris
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