quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

SP – Moradores de Pinheiros tentam preservar ruas de paralelepípedo

Tem gente que nunca reparou, outros não pensaram no assunto, mas um grupo de moradores de Pinheiros, zona oeste, começou a prestar mais atenção ao pavimento de suas ruas e se organizou para tentar manter os paralelepípedos do bairro.
Para evitar o asfaltamento de algumas vias, os residentes dos chamados Predinhos da Hípica e arredores reuniram cerca de cem assinaturas em um abaixo-assinado.
A ideia é incluir o pavimento no processo de tombamento dos prédios e sobrados que ficam entre as ruas Teodoro Sampaio, Mourato Coelho, Artur de Azevedo e a avenida Pedroso de Morais. O pedido de preservação dos imóveis, construídos na década de 1950, já corre há cerca de dez anos no DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), da Prefeitura de São Paulo.
Para o abaixo-assinado, a movimentação dos moradores começou no fim de 2012 a partir de uma reunião feita para discutir a segurança no bairro. De temas como iluminação pública passou-se a comentar o fato de as ruas estarem sendo “remendadas” com asfalto após obras da prefeitura. “O bairro está ficando descaracterizado”, reclama a publicitária Fernanda Salles, 44.
Nas ruas Benjamin Egas, Navarro de Andrade, Sebastião Velho e Simão Alvares é possível ver a mistura de paralelepípedo e asfalto, que muitas vezes é colocado em cima da pedra.
A razão de pavimentar sobre o paralelepípedo, segundo o professor da FAU-USP Vladimir Bartalini, é econômica –fica mais barato do que tirar a pedra, e ela acaba servindo de substrato para o asfalto.
  
Comparações
Além da estética, a justificativa de quem quer a preservação do paralelepípedo é que ele absorve melhor a água das chuvas e ajuda a diminuir a velocidade dos carros. Contra a iniciativa pesa a falta de matéria-prima e de mão de obra no mercado, o que torna a manutenção cara.
A preservação é apoiada por especialistas como o arquiteto Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade, que acredita que essa pedra faz parte do conjunto arquitetônico do bairro e traz benefícios, como uma temperatura mais baixa ao ambiente.
“O asfalto esquenta e dilui com mais facilidade”, afirma. “Ecologicamente, o paralelepípedo é mais qualificado, dá mais permeabilidade. E a qualidade de uma cidade, em termos de mobilidade e infraestrutura, não deve ser analisada pelo custo.”
A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras disse que, além da falta de mão de obra, opta pelo asfalto porque o paralelepípedo se torna escorregadio com o desgaste e porque o barulho causado pelo tráfego é alvo de reclamação dos moradores.
Exemplo é o aposentado Oswaldo Manna, 89, que mora numa das ruas. “Isso aí [paralelepípedo] deixa um monte de buracos que juntam água”, diz ele, que não é o único a reclamar. “É uma besteira [a preservação]. Não tem quem faça a manutenção e faz muito barulho”, completa o engenheiro Marcos Ávila, 59.
Para o professor Vladimir Bartalini, a falta de mão de obra seria resolvida com a criação de cursos de capacitação. “Hoje se valoriza a preservação do patrimônio. É necessário que existam pessoas especializadas nessas técnicas.”

Preservação
Um exemplo de restauro é a praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro, região central. Reformado em 2007, o local teve seus passeios de pedra recuperados por conta da iniciativa de arquitetos do DPH.
Segundo José Rollemberg, que fazia parte da equipe à época, cada caso de preservação deve ser analisado individualmente. “Não é preciso nem preservar nem asfaltar tudo.”
Em nota, a prefeitura afirma que, “na medida do possível, procura manter características de alguns bairros, como no caso do calçamento de vias com paralelepípedo.”
Em outras ruas, como a Geórgia, no Brooklin Paulista, zona sul, ou a José Maria Garcia, no Tatuapé, zona leste, as pedras ainda resistem. A possibilidade de capeamento, porém, não é discutida por moradores.
De acordo com Crescenza Giannocaro, a dona Zina, presidente da associação Amo a Mooca, bairro da zona leste em que ainda há ruas de pedras, o asfalto é colocado à noite e sem aviso prévio. “Quando a gente vê, já está asfaltado”, conta ela, que deve iniciar as discussões sobre a preservação das ruas de paralelepípedo do bairro neste ano.

Prós e contras
Asfalto
A favor: É mais rápido de ser produzido e mais barato
Contra: É impermeável e se desgasta mais rapidamente
Paralelepípedo
A favor: É permeável e reduz a temperatura e a velocidade de carros
Contra: É mais caro, faz barulho e pode causar derrapagem de veículos
Onde a pedra resiste
Centro
R. Senador Pádua Salles, Santa Cecília
Travessa Dona Paula, Higienópolis
Zona Leste
Av. Cassandoca, Mooca
R. Icaraí, Tatuapé
Zona Sul
R. Geórgia, Brooklin Paulista
Zona Oeste
R. Ricardo Severo, Perdizes

Fonte: http://www.defender.org.br/sp-moradores-de-pinheiros-tentam-preservar-ruas-de-paralelepipedo/














Da esq. à dir., o casal Beatriz e André Megale, 36, e Fernanda Salles, 44, na rua Sebastião Velho, em Pinheiros. Fotos: Lucas Lima/Folhapress














Praça Coronel Fernando Preste, no Bom Retiro, região central, foi reformada em 2007














Praça Coronel Fernando Preste, no Bom Retiro, região central, foi reformada em 2007

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