Tem gente que nunca reparou, outros não pensaram no assunto, mas um
grupo de moradores de Pinheiros, zona oeste, começou a prestar mais
atenção ao pavimento de suas ruas e se organizou para tentar manter os
paralelepípedos do bairro.
Para evitar o asfaltamento de algumas vias, os residentes dos
chamados Predinhos da Hípica e arredores reuniram cerca de cem
assinaturas em um abaixo-assinado.
A ideia é incluir o pavimento no processo de tombamento dos prédios e
sobrados que ficam entre as ruas Teodoro Sampaio, Mourato Coelho, Artur
de Azevedo e a avenida Pedroso de Morais. O pedido de preservação dos
imóveis, construídos na década de 1950, já corre há cerca de dez anos no
DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), da Prefeitura de São Paulo.
Para o abaixo-assinado, a movimentação dos moradores começou no fim
de 2012 a partir de uma reunião feita para discutir a segurança no
bairro. De temas como iluminação pública passou-se a comentar o fato de
as ruas estarem sendo “remendadas” com asfalto após obras da prefeitura.
“O bairro está ficando descaracterizado”, reclama a publicitária
Fernanda Salles, 44.
Nas ruas Benjamin Egas, Navarro de Andrade, Sebastião Velho e Simão
Alvares é possível ver a mistura de paralelepípedo e asfalto, que muitas
vezes é colocado em cima da pedra.
A razão de pavimentar sobre o paralelepípedo, segundo o professor da
FAU-USP Vladimir Bartalini, é econômica –fica mais barato do que tirar a
pedra, e ela acaba servindo de substrato para o asfalto.
Comparações
Além da estética, a justificativa de quem quer a preservação do
paralelepípedo é que ele absorve melhor a água das chuvas e ajuda a
diminuir a velocidade dos carros. Contra a iniciativa pesa a falta de
matéria-prima e de mão de obra no mercado, o que torna a manutenção
cara.
A preservação é apoiada por especialistas como o arquiteto Ciro
Pirondi, diretor da Escola da Cidade, que acredita que essa pedra faz
parte do conjunto arquitetônico do bairro e traz benefícios, como uma
temperatura mais baixa ao ambiente.
“O asfalto esquenta e dilui com mais facilidade”, afirma.
“Ecologicamente, o paralelepípedo é mais qualificado, dá mais
permeabilidade. E a qualidade de uma cidade, em termos de mobilidade e
infraestrutura, não deve ser analisada pelo custo.”
A Secretaria de Coordenação das Subprefeituras disse que, além da
falta de mão de obra, opta pelo asfalto porque o paralelepípedo se torna
escorregadio com o desgaste e porque o barulho causado pelo tráfego é
alvo de reclamação dos moradores.
Exemplo é o aposentado Oswaldo Manna, 89, que mora numa das ruas.
“Isso aí [paralelepípedo] deixa um monte de buracos que juntam água”,
diz ele, que não é o único a reclamar. “É uma besteira [a preservação].
Não tem quem faça a manutenção e faz muito barulho”, completa o
engenheiro Marcos Ávila, 59.
Para o professor Vladimir Bartalini, a falta de mão de obra seria
resolvida com a criação de cursos de capacitação. “Hoje se valoriza a
preservação do patrimônio. É necessário que existam pessoas
especializadas nessas técnicas.”
Preservação
Um exemplo de restauro é a praça Coronel Fernando Prestes, no Bom
Retiro, região central. Reformado em 2007, o local teve seus passeios de
pedra recuperados por conta da iniciativa de arquitetos do DPH.
Segundo José Rollemberg, que fazia parte da equipe à época, cada caso
de preservação deve ser analisado individualmente. “Não é preciso nem
preservar nem asfaltar tudo.”
Em nota, a prefeitura afirma que, “na medida do possível, procura
manter características de alguns bairros, como no caso do calçamento de
vias com paralelepípedo.”
Em outras ruas, como a Geórgia, no Brooklin Paulista, zona sul, ou a
José Maria Garcia, no Tatuapé, zona leste, as pedras ainda resistem. A
possibilidade de capeamento, porém, não é discutida por moradores.
De acordo com Crescenza Giannocaro, a dona Zina, presidente da
associação Amo a Mooca, bairro da zona leste em que ainda há ruas de
pedras, o asfalto é colocado à noite e sem aviso prévio. “Quando a gente
vê, já está asfaltado”, conta ela, que deve iniciar as discussões sobre
a preservação das ruas de paralelepípedo do bairro neste ano.
Prós e contras
Asfalto
A favor: É mais rápido de ser produzido e mais barato
Contra: É impermeável e se desgasta mais rapidamente
Paralelepípedo
A favor: É permeável e reduz a temperatura e a velocidade de carros
Contra: É mais caro, faz barulho e pode causar derrapagem de veículos
Onde a pedra resiste
Centro
R. Senador Pádua Salles, Santa Cecília
Travessa Dona Paula, Higienópolis
R. Senador Pádua Salles, Santa Cecília
Travessa Dona Paula, Higienópolis
Zona Leste
Av. Cassandoca, Mooca
R. Icaraí, Tatuapé
Av. Cassandoca, Mooca
R. Icaraí, Tatuapé
Zona Sul
R. Geórgia, Brooklin Paulista
R. Geórgia, Brooklin Paulista
Zona Oeste
R. Ricardo Severo, Perdizes
R. Ricardo Severo, Perdizes
Fonte: http://www.defender.org.br/sp-moradores-de-pinheiros-tentam-preservar-ruas-de-paralelepipedo/
Da esq. à dir., o casal Beatriz e André Megale, 36, e Fernanda Salles, 44, na rua Sebastião Velho, em Pinheiros. Fotos: Lucas Lima/Folhapress
Praça Coronel Fernando Preste, no Bom Retiro, região central, foi reformada em 2007
Praça Coronel Fernando Preste, no Bom Retiro, região central, foi reformada em 2007
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